Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
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Item A “revolta da ineficiência”: os acontecimentos de junho de 2013 no Brasil e suas destituições político-teológicas(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-05-21) SOUZA, Daniel Santos; RIBEIRO, Claudio; RENDERS, Helmut; BARSALINI, GlaucoO interesse dessa tese de doutorado é ensaiar uma leitura teológica atravessada e provocada pelas potências destituintes nos acontecimentos de junho de 2013 no Brasil. Nessa perspectiva, “junho” estaria afastado de um “poder constituinte”, na busca de uma nova ordem institucional e novamente enquadrado em um “paradigma securitário” do estado e em suas relações com o capitalismo neoliberal. Desse modo, entendo que aqueles acontecimentos podem ser interpretados para além da pergunta pela consequência político-estratégica e vistos como uma revolta capaz de expor a anarquia e a anomia capturadas nas tecnologias da “máquina governamental”. Como percurso metodológico, interessei-me em “catar” as imagens deixadas para trás nesses acontecimentos. A partir de mensagens levadas às ruas por meio de pichações, faixas, cartazes e bandeiras, desejei encontrar rastros destituintes e ineficientes, em alianças dos corpos que criam novas habitações da cidade. Com esse olhar, assumi “junho” como uma dobradiça político-teológica. De um lado, desvela a assinatura teológica do estado e possui um potencial profanatório e destituinte do fazer-político moderno. Do outro, ao indicar outros modos de viver a política e (re)imaginar o “sagrado” do estado, “dividindo a divisão” entre sagrado e profano, junho favorece os processos de revisão dos projetos de teologias, como a latino-americana da libertação (TdL). Para o exercício de imaginar rastros teológicos em junho de 2013, tomei como referencial teórico o filósofo italiano Giorgio Agamben (1942-), especialmente o seu projeto Homo sacer. Junto a isso, busquei construir tensões criativas entre uma “teologia inoperosa” e o paradigma teológico do êxodo, central nas TdL, focado na identidade (sujeito oprimido), no soberano (Deus libertador), no povo/nação, na posse da terra e na operatividade da luta. A escolha da TdL se deve à vinculação de uma espiritualidade desde e com as lutas populares e pelos seus interesses de se refletir e construir projetos políticos. Essas interações, desde junho, podem abrir possibilidades para novos usos da política e para se “pensar o impensado” como uma teologia ineficiente, orientada, por exemplo, a partir da concepção hebraica do sábado. A leitura ensaiada nessa tese é diagramática e cria algum sentido para expressões teológicas, com ênfase no espirito e no tempo messiânico, na libertação e imanência de deus e na graça de uma “comunidade que vem”. Por fim, em uma dimensão inoperosa da escrita, a tese se encerra com uma intervenção artística nas ruas da cidade de São Paulo, nomeada como: “rastros de deus nos rastros de junho”.Item A besta de sete cabeças: monstruosidade e construção de fronteiras da cultura(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-04-01) DORNELES, Vanderlei; GARCIA, Paulo RobertoEsta tese empreende uma análise da metáfora apocalíptica da besta de sete cabeças em sua intertextualidade e em seu sistema semântico em textos da cultura do antigo Mediterrâneo. O estudo parte do Apocalipse de João e dos textos do mundo bíblico e avança para descobrir a rede textual ampla desta metáfora na cultura antiga. A metáfora da besta de sete cabeças é considerada como um texto da cultura e um sistema de representação da alteridade. O estudo se fundamenta nos conceitos de semiosfera, texto da cultura e intertextualidade, conforme entendidos pelos teóricos da chamada Semiótica da Cultura, de origem russa, dentre os quais se destaca Lotman como seu principal articulador. Também se apoia no conceito de metáfora, na linha de Lakoff e Johnson; e na noção do monstruoso como sistema de representação de alteridade grotesca, segundo Kristeva e Cohen, entre outros teóricos da noção do abjeto e monstruoso. Parte da pressuposição de que elementos semióticos e conceituais comuns, ativos na memória e no imaginário das culturas, evidenciam o entrecruzamento dos textos de diferentes épocas e lugares. A metáfora da besta é analisada em suas conexões semióticas com textos antigos nos quais também se verifica a construção de figuras monstruosas de múltiplas cabeças, como na Paleta de Narmer de cerca de 3100 a.C. e no Cilindro de Tell Asmar de 2200 a.C., entre outros. Essas conexões indicam que o texto profético do Apocalipse de João não é dado de forma isolada das linguagens e da cultura de seu tempo. Elas permitem também enxergar as narrativas proféticas do Apocalipse como um texto da cultura, capaz de diálogo e produção de sentidos com uma rede de outras narrativas e tradições. À luz da Semiótica da Cultura, a metáfora da besta é analisada como um sistema de representação da alteridade opositora, a partir de elementos monstruosos e abjetos. Nessa linha, a metáfora se apresenta como uma ferramenta capaz de construir fronteiras definidoras do próprio e do alheio, caracterizando o cristianismo primitivo como uma cultura emergente distinta das demais à sua volta, embora em constante diálogo e entrecruzamento com as mesmas.Item A compreensão da arte nos protestantismos brasileiros em quatro publicações - Expositor Cristão, O Estandarte, O Jornal Batista e Ultimato - no período de 1971 a 1980(Universidade Metodista de São Paulo, 2025-03-19) AVILLA, Wilson Roberto; CARNEIRO, Marcelo da SilvaA presente pesquisa propõe o mapeamento do conteúdo de quatro publicações proeminentes nos meios protestantes brasileiros - O Expositor Cristão, O Estandarte, O Jornal Batista e Ultimato –, no período de 1971 a 1980, com o objetivo de compreender a relação desses segmentos (do protestantismo) com a arte. O entendimento dos fenômenos artísticos é fundamental, especialmente no âmbito do Protestantismo, em que seu uso como linguagem é tão evidente quanto as divergências sobre sua função e justificativas doutrinárias. Reconhecer a arte como uma das mais expressivas linguagens da religião possibilita a articulação de propostas integrativas nos campos da Arte e da Teologia em contextos diversos das correntes protestantes brasileiras. A atenção dada à arte pelos protestantismos brasileiros contém lacunas e é carente de definições acadêmicas. A pesquisa, de caráter religiográfico, busca contribuir para essa compreensão, e no seu propósito investigativo a busca de dados seguros para o estabelecimento de análises e/ou diagnósticos da produção sobre arte segue basicamente as seguintes etapas: a) escolha dos periódicos protestantes brasileiros; b) delimitação do período a ser pesquisado; c) mapeamento de conteúdos relacionados à arte em cada um dos periódicos; d) organização e sistematização dos dados colhidos. e) análise interpretativa dos dados. Após a organização dos dados coletados, são adotados como parâmetros de análise os pressupostos sobre arte elencados pelo Documento da Cidade do Cabo (Pacto de Lausanne). Na conjugação de conteúdos são indexados contextos, autores, conceitos e obras abrangidos. A busca por uma ‘hermenêutica das ênfases’ em cada publicação (e no conjunto delas) mostra-se reveladora, com base nas linhas de pensamento, no âmbito da religião ou da arte e suas intersecções. As conclusões possibilitam diálogos de cunho transdisciplinar entre vivências eclesiológicas e litúrgicas a partir de elementos da compreensão da arte que delas decorrerem.Item A cristologia angelomórfica joanina: uma análise da narrativa da ascensão de Jesus em João 20,11-18(Universidade Metodista de São Paulo, 2018-10-30) BRITO, Marco Aurélio de; GARCIA, Paulo RobertoNossa pesquisa nasceu do desejo de analisar a presença dos anjos no sepulcro e a imagem trans-cendente que eles evocam. Para isso, em primeiro lugar estudamos os seres angelicais que aguardaram a ascensão do Senhor no Evangelho de João. Essa análise demonstrou a forte cone-xão entre a ascensão celestial destinada a humanos no contexto do Mundo Antigo presente na Bíblia Hebraica, Literatura do Período do Segundo Templo e nos Manuscritos do Mar Morto. Dessa forma, analisamos criticamente essas narrativas comparando-as com a cristologia alto-descendente joanina. Em segundo lugar, dialogamos com os termos que revelavam a autoridade da pessoa de Jesus, apresentando como esses termos foram decisivos para indicar sua crescente autoridade e divindade no contexto do judaísmo do primeiro século, frente a outras importantes personalidades do período. Em terceiro lugar, fizemos uma pesquisa exploratória, num processo dialético, comparando os seres angelicais, humanos divinizados, patriarcas e sacerdotes, com a imagem literária de Jesus no Quarto Evangelho. Para tanto, defendemos que o discípulo amado, autor do evangelho, tentou construir a imagem de seu mestre cheia de glória. No final, tentamos interpretar o relato de acordo com a imaginação popular, visto que a literatura fantasmagórica nos ajuda a compreender o relato joanino da aparição de Jesus após sua ressurreição frente a discípulos amedrontados e escondidos que não se espantam com a aparição de seu mestre, mesmo com as portas encerradas. Também tentamos compreender todas as construções literárias que tinham alguma ligação ou que compartilhavam o mesmo campo semântico na obra. Nosso objetivo foi demonstrar que a comunidade joanina entendia a si mesma como o verdadeiro gru-po que recebeu a revelação da mensagem de Cristo e que todas as discussões presentes na obra tentam exaltar ao mestre e desmistificar outras supostas deidades. Em suma, defendemos que o processo teológico de ascensão de Cristo na comunidade, sua cristologia e as relações angelo-mórficas espelharam importantes figuras da História de Israel e, ao mesmo tempo, exaltavam e glorificavam ao mestre através de símbolos presentes no texto, como o Logos, o Templo, o Filho de Deus, entre outros.Item A Cristomorfia na literatura de memória joanina: estudo em 1 João 3.1-10(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-09-30) SANTOS, Antonio Carlos Soares dos; GARCIA, Paulo RobertoNovas pesquisas apontam, cada vez mais, para um cristianismo plural e com relações dialógicas com outras culturas e religiões, fato este, que força uma nova visão sobre o contexto nas memórias e literaturas cristãs primitiva. Dentre a vasta literatura dos primeiros séculos do cristianismo, destaca-se, particularmente, a de tradição joanina. Chegamos à conclusão que os textos joaninos que temos hoje por certo são frutos de um longo e complexo processo redacional. Com seu início por volta do ano 50 EC com relatos orais de Jesus promulgados e interpretados de acordo com a leitura feita por essas comunidades. Com o tempo foram sendo modificados com acréscimos e releituras. Dentro dessa perspectiva propomos uma expectativa presente em tais escritos: a Cristomorfia. Através da análise de um escrito dito canônico como I João 3. 1-10, analisaremos a literatura joanina advinda de suas memórias comunitárias e sua esperança cristomórfica. Observando a questão do conflito existente e que, possivelmente, levou a dissensão, o texto de 1 João é uma tentativa de afirmação identitária de uma comunidade. Há de se atentar para o fato de que o pensamento gnóstico estivesse presente na realidade de algumas comunidades, entre elas a de pertença ao apostolo João, o que provavelmente levou a uma defesa mais contundente a respeito da questão. No ápice dessa defesa encontramos indícios sobre a expectativa cristomórfica nas literaturas de memória joanina. Portanto, no texto que destacamos percebemos que a identidade da comunidade em 1 João perpassa pela ideia de uma futura natureza como a de Cristo.Item A Dinastia Omrida: reconstrução do primeiro Estado independente de Israel a partir da Bíblia e da arqueologia(Universidade Metodista de São Paulo, 2017-06-09) MENDONÇA, Élcio Valmiro Sales de; KAEFER, José AdemarEsta pesquisa tem por objetivo analisar a dinastia omrida como a fundadora do primeiro Estado independente de Israel, no séc. IX AEC. Este foi o único momento da história que Israel governa de modo totalmente independente. Ao invés de ser dominado era Israel quem dominava. A dinastia dos reis omridas expandiu seu território alcançando a costa do mar Mediterrâneo, o sul da Síria, a Transjordânia e dominando sobre Judá. A fundação de Samaria por Omri foi o início do primeiro estado israelita. Omri edificou a cidade e realizou grandes obras unindo vários aspectos arquitetônicos existentes e inovando com outros, de forma que formou um modelo arquitetônico para todas as construções omridas pelo vasto território. Israel Norte possui todas as características de um estado desenvolvido, conforme as teorias de formação dos estados de Childe e Liverani. Palácios suntuosos, edifícios públicos e administrativos, mão-de-obra especializada, cobrança de tributos, templos, produção excedente, indústrias, corpo de escribas e escrita desenvolvida. Judá não possuía nada disso, ao contrário, durante o séc. IX AEC era pequeno e sem recursos. Judá se tornou um estado desenvolvido somente no séc. VIII AEC, depois que Israel Norte foi destruído pelos assírios. Mas apesar de tudo isso, a dinastia omrida é vista com a pior, mais pecadora e mais perversa de todas, seus reis, principalmente, Omri e Acab são avaliados nas narrativas bíblicas como os piores reis de Israel. Isso porque a história de Israel como a temos na Bíblia, foi editada e compilada por Judá, quando Israel Norte já não existia, isto favoreceu Judá na história bíblica. Esta pesquisa pretende fazer o caminho inverso, entender a história de Israel a partir de Israel Norte. E para isso, o método utilizado será a análise exegética e a análise dos achados arqueológicos. A exegese com a arqueologia para desvendar a história de Israel Norte do séc. IX AEC, que não foi registrada nos textos bíblicos. Para isso, foram realizadas visitas de estudo em quase todos os sítios analisados nesta pesquisa (sítios de Israel, Palestina e Jordânia), também foram realizadas escavações no sítio arqueológico de Tel Megiddo (2016), com o arqueólogo Israel Finkelstein, um dos referenciais desta pesquisa. Quanto aos resultados, Israel Norte, no período da dinastia omrida, de fato foi o primeiro estado israelita e o único de toda a história de Israel a existir e governar de forma independente. O vasto território dominado pela dinastia omrida é praticamente o mesmo da Monarquia Unida de Davi e Salomão. Há grande possibilidade de que a ideia de Monarquia Unida tenha vindo das memórias de um reino poderoso, próspero e extenso que governou o Norte e o Sul, a Transjordânia e chegou até a Síria, que tinha fortes ligações comerciais com a Fenícia. Enfim, o único reino que fez tudo isso foi o da dinastia omrida.Item A experiência mística apocalíptica do Apóstolo Paulo como elemento fundante da justificação pela fé: uma análise exegética de Romanos 3(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-05-06) FORMICKI, Leandro; GARCIA, Paulo RobertoO presente estudo exegético tem por objetivo pesquisar Romanos 3:1-31 buscando perceber por que para o apóstolo Paulo tanto judeu como gentio são pecadores e carecem da glória de Deus (Rm 1:18-3:20). Por isso, não há diferença entre eles com relação à justiça (3:21-4:25). E por que para ele a justificação de Deus é pela fé em Jesus Cristo para todos que acreditam, tanto judeus como gentios, e não mais pela prática da lei (3:22-30). Diante disso, nossa hipótese é mostrar que a partir da experiência mística apocalíptica do Apóstolo Paulo descrita em Gálatas 1:1-24 e 2 Coríntios 12:1-4, ele propõe uma nova interpretação a respeito da “salvação do ser humano”. Isso pode ser confirmado em Romanos 3:1-31, onde ele expõe que a Torá não serve como um meio de salvação do ser humano, pois ela não é capaz de libertar o ser humano do poder escravizador do pecado que conduz à morte. Ao invés disso, o meio de salvação eficaz é quando o “ser humano é justificado por fé, sem obras da lei”. Certamente, esta experiência mística apocalíptica tira o Apóstolo Paulo da pertença do Judaísmo Sinaíta Sinagogal do Mundo Mediterrâneo, ou seja, de uma crença na aliança sinaítica que é condicionada ao cumprimento dos mandamentos da Torá e considera só o povo judeu como “exclusivo de Deus”, isto é, eleito para ser “santo/separado” e “puro” para Deus e o realoca em um espaço místico apocalíptico de identidade, onde ele assume que tanto judeus como gentios estão na condição de “pecadores (impuros)” e por isso, não são dignos de serem justificados por Deus, mas por meio da união/comunhão com o sagrado “a fé em Jesus” qualquer um pode ser considerado justo/inocente/puro e por isso, ser salvo da ira de Deus e receber a recompensa de uma vida eterna. Para tanto, fundamentaremos nossa pesquisa, nos estudiosos Gershom Scholem, Martinus De Boer e Mary Douglas, respectivamente do misticismo judaico, apocalíptica judaica e antropologia da cultura, além de revisar alguns escritos judaicos e algumas discussões exegéticas acerca do texto que vem ganhando notoriedade e controvérsias desde a segunda metade do século XX.Item A fé como estado de preocupação última: interpretação da noção de risco da fé na obra de Paul Tillich(Universidade Metodista de São Paulo, 2017-06-14) BALEEIRO, Cleber Araújo Souto; JOSGRILBERG, Rui de SouzaO tema que tratamos é a relação entre fé e risco no pensamento de Paul Tillich. Optamos por partir de alguns textos de sua maturidade, especialmente a Teologia sistemática e a Dinâmica da fé, mas dialogando com outros textos, inclusive do período alemão. Procuramos interpretar o tema numa perspectiva ontológico-existencial, o que significa que a fé não é tratada somente como um tipo de conhecimento, experiência ou crença, mas como o estado do ser humano tomado por uma preocupação última. O risco, neste sentido, não pode também ser referente aos conteúdos da fé, mas a esse estado de preocupação última. O que nos leva a propor, a partir da obra de Tillich, que o risco está presente e cada ato de fé, não a invalida, antes faz parte de sua constituição. Assumir a fé é assumir o risco que ela carrega. Como um meio de desenvolvermos essa tese pensamos em uma estrutura dividida em quatro partes. Na primeira (A questão da fé em Tillich) trabalhamos o conceito de fé como estado de preocupação última. Para isso, começamos por discutir a problematização da fé em Tillich como uma questão fenomenológica, depois procuramos estabelecer o conceito de fé como dependente do conceito de religião como preocupação última, por fim, apresentamos quatro temas que surgem da compreensão da fé como estado: a ideia de fé como destino, a ideia de fé como experiência, a relação entre o racional e o irracional e algumas distorções do conceito de fé. Na segunda parte (O risco próprio da fé) procuramos apresentar a noção de risco. Identificamos inicialmente três lugares na obra de Tillich em que a ideia de risco é relacionada a fé, depois apresentamos as ideias de fronteira e ambiguidades da vida como próximas à ideia de risco. Na terceira parte (Linguagem e risco da fé) apresentamos a linguagem como lugar onde o risco penetra a fé, como lugar que, por seu caráter dinâmico e historicamente situado, impossibilita a fé de ser compreendida de modo absoluto. Para isso iniciamos discutindo a compreensão de linguagem em Aristóteles e Heidegger, como modelos paradigmáticos opostos, para depois apresentar a discussão sobre linguagem em Tillich como uma alternativa às duas, com destaque para o símbolo, enquanto linguagem da fé. Na quanta parte (A fé que assume o risco) tratamos das implicações de se assumir o risco como elemento constitutivo da fé. Destacamos três implicações: a ideia de verdade da fé, a relação entre fé e dúvida e a relação entre dúvida e coragem.Item A hermenêutica do testemunho: o texto de si e o texto para o outro como fundamentação da identidade religiosa(Universidade Metodista de São Paulo, 2022-06-27) ALMEIDA, Sérgio Cesar Prates de; PAULA, Blanches de; SOUZA, Vitor Chaves deO objetivo dessa pesquisa parte da perspectiva que a análise da fé não é um exercício a ser feito de forma simplesmente teórica, ela possui um elemento vivo e fundamental. O desejo do sujeito religioso inserido em um espaço coletivo o conduz ao compartilhar da fé permitindo com que ela se mantenha viva entre uma comunidade. Sendo assim, o reconhecimento da fé clama pelo testemunho do outro. Portanto, o testemunho é elemento fundamental para a constituição do sujeito religioso. A identidade religiosa se dá pela atitude de habitar o mundo do texto (discurso) que se revela no testemunho do outro. Desta forma, através dos referenciais apresentados aqui, acreditamos ser capaz de mostrar o sentido mesmo de reconhecimento de fé, e neste reconhecimento de fé o sujeito religioso se constitui, constrói sua identidade. Sendo assim, a hipótese que pretendemos fundamentar no percurso deste trabalho se conceitua nos seguintes termos: o testemunho é elemento constitutivo do sujeito religioso, pois este através da dinâmica da sua existência, que inclui o outro no movimento de si, produz seu próprio texto e recebe o texto do outro. É constitutivo porque sua identidade se dá pela atitude de habitar o mundo do texto (discurso) que se revela no testemunho do outro. Munidos dos referenciais que serão apresentados durante nosso percurso temos como objetivo investigar a originalidade do testemunho e como se dá a fundamentação do sujeito religioso por ele mediado.Item A Iconofagia Gospel: arte, corpo, consumo e suas ressignificações no cenário evangélico brasileiro contemporâneo(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-08-07) SILVA, João Marcos da; SOUZA, Sandra Duarte deA partir do fenômeno da explosão gospel da década de 90, houve uma inserção significativa dos evangélicos na sociedade de consumo e entretenimento, que corroborou para transformações na sua relação com as imagens, particularmente, as imagens de arte comercial produzidas para o mercado evangélico brasileiro. Com isso, os evangélicos passaram a consumir não somente os produtos, mas também as imagens geradas pela cultura gospel. Dessa forma, o presente trabalho procura mostrar, pelo olhar da cultura visual e da religião, o fenômeno da iconofagia gospel como o processo de devoração de imagens seculares e evangélicas. Por conseguinte, identificou-se, a partir da iconografia evangélica, as ressignificações do corpo no gospel e suas consequências nas devorações que alimentam e fomentam os processos de consumo e entretenimento no cenário evangélico brasileiro percebendo como estes impactos iconofágicos proporcionaram uma ressignificação do corpo e da iconografia cristã evangélica que fomentam o consumo e o entretenimento neste processo. A análise terá como base metodológica as teorias de Warburg (2010) sobre a produção iconográfica evangélica por meio dos conceitos da Pathosformeln (força de imagens) e da Nachleben (as imagens que sobrevivem e retornam no tempo) identificando as apropriações de imagens seculares pelo mercado evangélico no cenário gospel brasileiro, e de Baitello (2005), no que corresponde aos processos iconofágicos. No desenvolvimento deste estudo, o texto dialoga com a área da comunicação e da história da arte para uma melhor compreensão do crescimento da produção visual e do mercado gospel no Brasil.Item A loucura como forma-de-vida: ressonâncias profanas em Giorgio Agamben e Gilles Deleuze(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-03-27) CATENACI, Giovanni Felipe; SOUZA, Vitor Chaves deEste texto visa apresentar a plausibilidade da seguinte tese: É possível concebermos a esquizofrenia, tal como a definiu Gilles Deleuze, em ressonância com a ideia de forma-de- vida postulada por Giorgio Agamben. Conceitualmente, tais afirmações remontam ao fato da secularização inserir no mundo insuspeitos ares de sacralidade e violência, o que a nosso ver torna pertinente o esforço aproximativo das teses destes dois autores; que apesar de suas divergências teóricas, parecem dialogar como veremos, em relação aos diagnósticos e, saídas para os problemas do contemporâneo. Nossa hipótese pode ser traduzida como uma tentativa de pensar o “que vem” messiânico de Agamben, em ressonância com a obra filosófica deleuzeana. Metodologicamente, partimos do texto A imanência absoluta, no qual Agamben faz um comentário à Imanência: uma vida... que por sinal, é o último texto escrito por Deleuze, mas em sintonia com os volumes de Homo Sacer e outros escritos de Agamben, para traçar uma zona de vizinhança entre os dois autores, por intermédio da qual daremos seguimento a nossa análise. Temos por objetivo demonstrar que a loucura em Deleuze, pode ser lida pela perspectiva de Agamben, como forma-de-vida, e não como doença, mas como resistência criativa e produtiva capaz por sua vez de curto-circuitar os dispositivos de governo e axiomatização, em voga nas sociedades de controle hodiernas. É a vida que se encontra como critério último em ambos os pensamentos; liberá-la é o que lhes importa. Não a vida como inclinação natural para verdade, tampouco como projeção consciencial, tal como poderíamos pensar fenomenologicamente, mas, como processo produtivo de singularização, como movimento da própria potência imanente ao vivente, como forma-de-vida. A loucura pode ser vista como uma vida que na medida em que é vivida na imanência de sua forma é capaz de profanar, ou seja, tornar inoperosos os dispositivos religiosos da sociedade de controle, liberando com isso, a potência vital que se encontra aprisionada biopoliticamente pelo Estado de Exceção permanente em que vivemos.Item A performance inclusiva das narrativas visuais do Vale do Amanhecer(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-10-04) SANTOS, Altierez Sebastião dos; RENDERS, HelmutEsta pesquisa investiga narrativas visuais da religião do Vale do Amanhecer como foco na sua performance, inclusiva ou exclusiva, em comparação com as suas principais narrativas textuais. O objetivo é contribuir para os estudos visuais sobre este novo movimento religioso e demonstrar como a sua cultura visual articula uma linguagem religiosa própria que requer a atenção na pesquisa dos estudos da religião. Defende-se a hipótese que as narrativas visuais, presentes, tanto nos campos sagrados, em prédios “públicos” como em “oratórios” de casas, evidenciam uma performance mais inclusiva do que as narrativas textuais, porém, não sem revelar também aspectos ambivalentes. Para o desenvolvimento da pesquisa são identificados elementos inclusivos e exclusivos nas principais narrativas visuais e literárias do Vale do Amanhecer, em diálogo com a matriz cultural e religiosa brasileira, sob a consideração da performance cúltica do movimento. Para o desenvolvimento do estudo, parte-se de Aby M. Warburg e Mikhail Bakhtin quanto à importância de imagens na religião e sua relação como o imaginário religioso e da teoria de performance de Richard Schechner quanto ao seu impacto em ritos públicos e privados aqui mediados pelo impacto do imaginário garantido pelas narrativas visuais. Os resultados constatam a ambivalência das narrativas visuais e literárias refletidas na performance inclusiva do movimento.Item A refeição eucarística como marca identitária e pertença religiosa na comunidade cristã de Corinto(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-10-16) FREDERICO, Danielle Lucy Bósio; NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza“Comida é boa para se pensar”, assim afirma Claude Lévi-Strauss que, por meio da comida, procura discernir as sociedades e grupos ao redor do prato. As variações desse tema podem indicar desde hierarquias sociais, acesso ao alimento até aquilo que se encontra além. Tendo como instrumento a antropologia da comida e a “hermenêutica dos espaços”, buscamos uma melhor compreensão do bloco presente em 1Coríntios 8 a 11, o qual tem como tema central alguns tipos de refeição que se faziam presentes nas mesas greco-romanas e também na comu-nidade cristã em formação na cidade de Corinto. Essa comunidade do primeiro século, majori-tariamente constituída por pessoas do baixo estrato, busca, no ato de comer juntos, estabelecer proximidade, coesão e a criação de uma identidade própria frente aos inúmeros grupos religio-sos existentes no período. Para tanto, a refeição comunitária e o ritual eucarístico, estruturado como uma refeição funerária, buscam, dentre outras coisas, a preservação da memória e a par-ticipação do Cristo ressurreto, nova divindade estabelecida e celebrada pelos integrantes dessa comunidade de fé liderada pelo apóstolo Paulo. Como comida ritual, a sua performance preci-sa ocorrer de forma precisa, a fim de que alcance o objetivo esperado. Essa questão não estava sendo observada pelos integrantes desse grupo cristão, fazendo com que o apóstolo trouxesse a memória as tradições bem como a instituição do ritual eucarístico, a fim de, o mesmo fosse realizado apropriadamente. Essas reuniões, de caráter comunitário, poderiam acontecer em vários espaços, tais como lojas, domus e insulae, não havendo necessariamente um local fixo pré-estabelecido para elas. Entendemos que essas reuniões majoritariamente aconteciam nas insulae, dada a característica popular da comunidade cristã, e que essas reuniões deveriam ser itinerantes. Nelas a frugalidade alimentar era evidente e o ritual, estabelecido com os elemen-tos de pão e vinho, se fazia presente e possível. A presença viva da nova divindade, partici-pante de honra da refeição, teria sua vida e ensinamentos partilhados à mesa, a fim de que novas pessoas tivessem acesso a essa nova religião em formação. Comida, portanto, é boa para se pensar e também para se criar identidade, pois era reconhecida como elemento estruturante no mundo mediterrâneo tanto para vivos como para mortos.Item A religião na restauração pernambucana e sua repercussão no imaginário cívico regional(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-11-03) DONDA, Elaine Martins; WIRTH, Lauri EmilioO objetivo desta tese é analisar, a partir do campo das Ciências da Religião e da História, a presença da religião no evento conhecido como Restauração Pernambucana (1645-1654), especialmente em suas principais batalhas (1648-1649). A pesquisa intenciona compreender o papel da religião nas tensões coloniais entre luso-brasileiros e holandeses em dois níveis de sentido. Em primeiro lugar pretende mostrar como controvérsias religiosas entre católicos romanos e protestantes calvinistas foram assimiladas e ressignificadas no contexto da ocupação do Nordeste brasileiro pelos holandeses. Em segundo, analisar sua repercussão no imaginário cívico regional, tendo como suspeita a apropriação a posteriori deste evento por expressões de civismo regional. Para isso, esse trabalho será dividido em quatro etapas: (1) Apresentar o contexto da Capitania de Pernambuco, considerada como importante núcleo da produção açucareira e seu campo religioso, com hegemonia católica e, a partir de 1630, destacar aspectos do Brasil holandês com ênfase nas práticas religiosas dos holandeses, em sua maioria, de confissão reformada. (2) Descrever fatores externos e internos que desencadearam a Restauração Pernambucana (1645-1654) e como as divergências religiosas aguçaram as tensões, desencadeando a insurreição luso-brasileira. (3) Analisar as principais narrativas coevas e algumas posteriores acerca da Restauração Pernambucana a fim de compreender como a narrativa sobre a intervenção de Nossa Senhora dos Prazeres nas principais batalhas foi construída. (4) Verificar como as produções artísticas, especialmente ex-votos e painéis produzidos no século XVIII e XIX contribuíram para a alimentação do imaginário cívico regional.Item A tríade social e suas implicações para a teologia bíblica veterotestamentária: indícios de uma teologia marginal(Universidade Metodista de São Paulo, 2021-09-21) LAGE, Jovanir; SANTOS, Suely Xavier dosO presente trabalho expõe o interesse por uma leitura social do Antigo Testamento e busca desenvolvê-la, analisando um considerável sistema de leis que prevê os aspectos físicos e sociais de indivíduos em situação de vulnerabilidade. Os critérios sociológicos, aqui desenvolvidos, buscam distinguir da religião institucionalizada, uma religião invisível e marginal, com profundas raízes antropológicas e sociais. No centro deste sistema que abriga os marginalizados da sociedade, encontramos a Tríade Social: estrangeiro rGE,, órfão aרny" e viúva hn",n't.r". O objetivo de nossa pesquisa está em analisar a presença destas categorias no texto bíblico e como elas acenam para um significativo conjunto de normas jurídicas, produzidas por grupos de oposição à “religião oficial”, desenvolvendo concepções totalmente novas no campo teológico, político e cultual. O método encontrado para averiguar nossas suspeitas está no estudo exegético de textos bíblicos, em especial, textos deuteronômicos e textos extrabíblicos, tendo como suporte os achados arqueológicos em Khirbet Qeiyafa. Os resultados preliminares de nossa pesquisa nos dão pistas de que a prática social, muito difundida no antigo Israel, entendida como uma exigência divina, alcança contornos litúrgicos importantes na fixação dos valores éticos e sociais na comunidade. Nossa pretensão é destacar que o tema do pobre e do necessitado, representados em nossa pesquisa pela Tríade Social, bem como a preservação de seus direitos básicos, perpassa todo o Antigo Testamento, promovendo uma espécie de teologia marginal, que caminha paralelo aos temas e às dinâmicas oficiais de fé.Item As interfaces das teologias latino-americanas: aproximações e distanciamentos entre a teologia da libertação e a teologia da missão integral(Universidade Metodista de São Paulo, 2018-10-26) CAPPELLETTI, Paulo; Jung Mo SungO objeto de análise desta tese são as interfaces entre as duas teologias latino-americanas, a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral. Essas duas teologias têm em comum o contexto histórico-social da segunda parte do século XX em que o mundo passou por profundas transformações sociais, políticas, econômicas e religiosas. O mundo foi dividido em duas ideologias, a capitalista e a marxista, mas também entre os países ricos e os países subdesenvolvidos, pobres e dependentes. Na América Latina, era também o tempo de êxodo rural e industrialização, o que significa o grande deslocamento da população rural para as grandes cidades e, consequentemente, o crescimento e a visibilização dos pobres nas periferias das cidades. Esses fatores influenciaram diretamente no nascimento das duas teologias latino-americanas: a Teologia da Libertação (TdL), que tem a sua origem no campo protestante, de linha ecumênica, e no campo católico; e a Teologia da Missão (TMI), que nasce no campo evangélico, também conhecido como os “evangelicais”, que procurou se distanciar do mundo protestante fundamentalista. No campo de estudos das teologias latino-americanas, há muito mais estudos sobre a TdL do que sobre a TMI e quase nada sobre a relação entre essas. Ambas têm em comum o objetivo de ajudar ou de liderar, em nome de Deus, da Igreja ou dos pobres, a libertação dos pobres dos sofrimentos da pobreza e opressão. Porém, essas teologias se viram como conflitantes ou em grande dificuldade para estabelecer um diálogo entre si. Diante disso, o escopo desta tese é exatamente entender “As interfaces das teologias latino-americanas”, em particular as suas origens, suas principais convergências – noção de encarnação na história, hermenêutica, Reino de Deus, libertação dos pobres – e diferenças – o lugar ou não do marxismo, o pobre como sujeito histórico ou a Igreja.Item As sagradas de Asherah e YHWH: narrativa e memória do sacerdócio feminino no templo de Jerusalém(Universidade Metodista de São Paulo, 2022-09-19) MATOS, Sue’Hellen Monteiro de; KAEFER, José AdemarEsta pesquisa analisa o sacerdócio feminino no templo de Jerusalém a serviço do casal divino, Asherah e YHWH, tendo como principal objeto a narrativa de 2Rs 23,4-14. A este objeto foram agregadas análises das evidências arqueológicas acerca do culto à Asherah e ao casal divino, bem como o exame das fontes textuais e iconográficas que asseveram as diversas categorias sacerdotais de mulheres no Antigo Oriente Próximo. Considerando os resultados destas análises conclui-se que “as mulheres que teciam vestes à Asherah”, mencionadas no texto bíblico (v.7), seriam, não apenas sacerdotisas de Asherah, mas também de YHWH. Com isto, a tese argumenta acerca da legitimidade do espaço cúltico das mulheres no principal templo de Judá, Jerusalém. Elas participam, não apenas no ambiente doméstico da religião privada, mas também no espaço de culto da religião pública, atuando também nos espaços de poder. No entanto, embora as “mulheres que teciam vestes à Asherah” sejam sacerdotisas, elas não são nomeadas como tal. Isto porque há uma política de memória de gênero por parte dos redatores bíblicos que selecionam o que narrar, como narrar, e o que esquecer. Por isso, analisou-se a construção narrativa e a política de memória de gênero do discurso ‘vitorioso’ de Josias que constrói um repúdio às mulheres, à Deusa e aos outros Deuses e seus sacerdotes expulsos em sua reestruturação religiosa exclusivamente javista. Esta pesquisa foi realizada a partir de levantamento bibliográfico de obras publicadas no Brasil e no exterior, as quais informam sobre estágio atual das pesquisas acerca de Asherah e suas sacerdotisas, tanto do ponto de vista da literatura bíblica quanto das evidências arqueológicas. O texto de 2Rs 23,4- 14 foi analisado através da exegese em perspectiva feminista. Esta metodologia inclui os passos do método histórico-crítico e crítica das formas, com a discussão das relações de poder entre os sexos dentro de uma cultura kyriarcal. Por fim, discutiu-se sobre o processo de silenciamento, ocultamento e desqualificação das mulheres que serviam à Deusa Asherah, e também a YHWH, bem como a própria linguagem violenta contra a Deusa. Esta discussão foi realizada a partir dos pressupostos teóricos de Paul Ricoeur sobre política de memória e de Elisabeth Schüssler Fiorenza acerca da hermenêutica da suspeita e da relembrança. Conclui-se que há uma política de memória de gênero utilizada pelos redatores bíblicos, a qual apaga a memória da Deusa Asherah e a desassocia de YHWH, assim como invisibiliza o sacerdócio feminino no templo de Jerusalém, negando às mulheres o espaço sagrado e de poder que outrora tinha sido ocupado por elas. Por conseguinte, elaborou-se uma nova política de memória: havia um culto oficial ao casal divino em Jerusalém, no qual mulheres e homens exerciam o sacerdócio.Item Balaão – o que ouve as palavras de EL, tem o conhecimento de Elyon e vê a visão de Shaddai: um estudo de número 22-24(Universidade Metodista de São Paulo, 2016-03-22) SOUZA, Geraldo de Oliveira; KAEFER, José AdemarA presente pesquisa busca avaliar exegeticamente o texto que se encontra na Bíblia, especificamente no livro de Números capítulos 22-24 que relata sobre um personagem conhecido como Balaão. A pesquisa tem também como objeto o estudo sobre o panteão de divindades relatado no mesmo texto, assim como também o estudo dos textos descobertos em Deir Alla, na Jordânia, que apresentam um personagem designado como Balaão, possivelmente o mesmo personagem de Nm 22-24. A motivação que levou ao desenvolvimento dessa pesquisa foi o fato de se ter deparado com os conceitos dos diversos nomes divinos exibidos no texto, além da questão do profetismo fora de Israel, assim como as possibilidades hermenêuticas que se abrem para a leitura desse texto bíblico. O conceito geral sempre foi o de que Israel era a única nação onde existiam “verdadeiros” profetas e uma adoração a um único Deus, o “monoteísmo”. O que despertou interesse foi perceber, especialmente por meio da leitura dos livros bíblicos, que o profetismo não se restringiu somente a Israel. Ele antecede à formação do antigo Israel e já existia no âmbito das terras do antigo Oriente Médio, e que Israel ainda demorou muito tempo para ser monoteísta. Quem é esse Balaão, filho de Beor? Estudaremos sobre sua pessoa e sua missão. Examinaremos os textos de Deir Alla sobre Balaão e sua natureza de personagem mediador entre o divino e o humano. Esse personagem é apresentado como um grande profeta e que era famoso como intérprete de presságios divinos. Analisaremos a importante questão sobre o panteão de deuses que são apresentados na narrativa de Balaão nomeados como: El, Elyon Elohim e Shaddai, além de Yahweh. Entendemos, a princípio, que o texto possui uma conexão com a sociedade na qual foi criado e usando da metodologia exegética, faremos uma análise da narrativa em questão, buscando compreender o sentido do texto, dentro de seu cenário histórico e social. Cenário este, que nos apresentou esse profeta, não israelita, que profere bênçãos dos deuses sobre Israel e que, além disso, pronuncia maldições sobre os inimigos desse mesmo Israel. Percebemos que, parte do texto pesquisado é apresentado sob a ótica de Israel sobre as outras nações. A pesquisa defende, portanto, que o texto de Nm 22-24, além de nos apresentar um profeta fora de Israel igual aos profetas da Bíblia, defende que, o panteão de divindades também era adorado por Israel e que tais nomes são epítetos de uma mesma divindade, no caso YHWH. Defende, também, um delineamento de um projeto de domínio político e militar de Israel sobre as nações circunvizinhas.Item Bartolomé de Las Casas, Roger Williams e o problema da idolatria nos séculos XVI e XVII(Universidade Metodista de São Paulo, 2021-03-12) BARBOSA, Adriel Moreira; WIRTH, Lauri EmilioEsta pesquisa investiga uma possível relação entre as críticas de Bartolomé de las Casas e Roger Williams ao sistema colonial de suas respectivas nações, mas com um foco específico, que é a crítica à idolatria ao ouro e à terra. Ela explora a possibilidade de ambas terem sido dirigidas às transformações sociais decorrentes do incremento da economia mercantil, i.e., a possibilidade de a crítica de Bartolomé de las Casas à ambição dos conquistadores e a de Roger Williams ao avanço colonial novo-inglês sobre as terras pertencentes aos nativos americanos indicar que o conceito de idolatria teria sido usado de forma específica, como instrumento de crítica a certos aspectos da emergente economia mercantil. Assumo a hipótese de que certos fenômenos relacionados à expansão da economia de mercado tornavam as mudanças na ordem social mais intensas e agressivas à época desses personagens, confrontando uma tradição de longa duração sobre as questões econômicas, para as quais o melhor instrumento de crítica teria sido o conceito teológico de idolatria. Suas críticas estariam se orientando pelo deslocamento de sentido dos atos individuais e coletivos, devido à inversão de valores que se gestava na sociedade de seu tempo, o que tornava o comportamento humano guiado por motivações de natureza interesseira cada vez mais aceito. O objetivo é identificar nas obras de Bartolomé de las Casas e Roger Williams sua crítica à idolatria do ouro e da terra e determinar sua possível relação com as transformações decorrentes da influência da emergente economia de mercado. Para isso, são necessários quatro passos: (1) reconstruir o universo sociocultural e econômico dos séculos XVI e XVII, em relação à emergente economia de mercado, entendida nesta análise como um fenômeno de longa duração que, acompanhando as contribuições de Jacques Le Goff, Paul Hugon, Henri Pirenne, Marcel Mazoyer e Laurence Roudart, demonstram ter se intensificado no período mercantilista; (2) apresentar a crítica de Bartolomé de Las Casas à cobiça pelo ouro dos conquistadores e colonizadores na América espanhola, pela perspectiva de relação dessa crítica com o sistema de encomiendas; (3) apresentar a crítica de Roger Williams à cobiça pela terra dos colonos da Nova Inglaterra, considerando sua relação com o debate sobre a legitimidade do sistema de cartas-patentes (charters) e do argumento legal do vacuum domicilium; (4) analisar comparativamente a crítica à idolatria de Bartolomé de Las Casas e Roger Williams a partir da compreensão da potencialidade do conceito teológico de idolatria para a crítica das questões econômicas, mediante a compreensão do uso desse conceito como forma de denúncia de fetichismo e da oposição entre os ídolos que oprimem e o Deus que liberta, da teologia latino-americana, representada por Pablo Richard. Tal oposição seria claramente explicitada nos conflitos Javé-Ball (no Antigo Testamento) e Javé-Mamon (no Novo Testamento), que, por sua vez, estão relacionados e apontam para uma disputa política calcada na terra e no dinheiro.Item Brotopentecostalismo: a religiosidade negra da periferia brasileira - um estudo da periferia urbana da região metropolitana de João Pessoa(Universidade Metodista de São Paulo, 2017-04-13) FLORES FILHO, José Honório das; RIVERA, Dario Paulo BarreraEste estudo analisa um fenômeno pentecostal que se expande nas periferias e favelas brasileiras e que aqui chamamos de brotopentecostalismo. Este pentecostalismo possui como característica, ser um movimento com importante participação de negros. Uma vez que as periferias e favelas são de maioria negra, estes eram filiados aos candomblés e umbandas, que antes dominavam estas áreas. Com a chegada e proliferação do pentecostalismo, religiões afro-indígenas-brasileiras perderam espaço. Muitos negros moradores dessas zonas favelizadas foram convertidos ao pentecostalismo, todavia este pentecostalismo se modificou, se diversificou e se revestiu de características populares da cultura negra brasileira. Nesta transição ocorreu uma metamorfose de um protopentecostalismo oficial, mais solidificado em suas organizações, para um pentecostalismo mais fluído, com igrejas geralmente construídas de forma rápida e precária e, geralmente de curta duração. Nesses espaços a musicalidade através das percussões, a ginga, a liberdade de movimentos e o êxtase do Espírito Santo, apresentaram-se como reinterpretação do transe africano. O fato fez do movimento pentecostal o veículo adequado ao negro. Esta questão tem como referência teórica Bastide e seus estudos sobre o negro e sua religião afro-brasileira. Sobre a questão da religiosidade popular, esta pesquisa encontra referência em Carlos Brandão. Na base do conceito de coerção e coesão emblemática, estão os conceitos bourdianos de habitus e violência simbólica, bem como o conceito geertiano da religião como sistema simbólico. A presente tese leva em consideração as condições reais de existência dos pentecostais negros marcados por alta vulnerabilidade social. Pesquisamos duas áreas periféricas da Região Metropolitana de João Pessoa: Mandacarú (Mandacarú e Alto do Céu) em João Pessoa e Mutirão (Mário Andreazza e Comercial Norte) em Bayeux. As populações destas áreas são de maioria negra, moradias precárias e um alto índice de desempregados. Contudo, há uma expressiva presença de igrejas pentecostais, isto faz que estas instituições se apresentem como importantes geradores de estrutura de oportunidade e capital social. E isso se dá como elemento determinante típico de afirmação de identidade brotopentecostal, e de movimento religioso popular reativo às condições adversas de vulnerabilidade social e segregação em periferias e favelas. O objetivo da pesquisa foi analisar a relação entre brotopentecostalismo como religião popular típica de periferia, segregação, vulnerabilidade social e identidade na realidade do negro brotopentecostal. A metodologia de pesquisa foi de caráter quanti-qualitativa incluindo pesquisa bibliográfica, etnográfica, observação participativa, aplicação de questionários e entrevistas em profundidade. Os participantes da pesquisa foram brotopentecostais brancos e negros em seus vários graus hierárquicos religiosos, todos eles moradores da periferia urbana de João Pessoa e seguidores de igrejas pentecostais que agem nesse contexto.