Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
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Item A “revolta da ineficiência”: os acontecimentos de junho de 2013 no Brasil e suas destituições político-teológicas(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-05-21) SOUZA, Daniel Santos; RIBEIRO, Claudio; RENDERS, Helmut; BARSALINI, GlaucoO interesse dessa tese de doutorado é ensaiar uma leitura teológica atravessada e provocada pelas potências destituintes nos acontecimentos de junho de 2013 no Brasil. Nessa perspectiva, “junho” estaria afastado de um “poder constituinte”, na busca de uma nova ordem institucional e novamente enquadrado em um “paradigma securitário” do estado e em suas relações com o capitalismo neoliberal. Desse modo, entendo que aqueles acontecimentos podem ser interpretados para além da pergunta pela consequência político-estratégica e vistos como uma revolta capaz de expor a anarquia e a anomia capturadas nas tecnologias da “máquina governamental”. Como percurso metodológico, interessei-me em “catar” as imagens deixadas para trás nesses acontecimentos. A partir de mensagens levadas às ruas por meio de pichações, faixas, cartazes e bandeiras, desejei encontrar rastros destituintes e ineficientes, em alianças dos corpos que criam novas habitações da cidade. Com esse olhar, assumi “junho” como uma dobradiça político-teológica. De um lado, desvela a assinatura teológica do estado e possui um potencial profanatório e destituinte do fazer-político moderno. Do outro, ao indicar outros modos de viver a política e (re)imaginar o “sagrado” do estado, “dividindo a divisão” entre sagrado e profano, junho favorece os processos de revisão dos projetos de teologias, como a latino-americana da libertação (TdL). Para o exercício de imaginar rastros teológicos em junho de 2013, tomei como referencial teórico o filósofo italiano Giorgio Agamben (1942-), especialmente o seu projeto Homo sacer. Junto a isso, busquei construir tensões criativas entre uma “teologia inoperosa” e o paradigma teológico do êxodo, central nas TdL, focado na identidade (sujeito oprimido), no soberano (Deus libertador), no povo/nação, na posse da terra e na operatividade da luta. A escolha da TdL se deve à vinculação de uma espiritualidade desde e com as lutas populares e pelos seus interesses de se refletir e construir projetos políticos. Essas interações, desde junho, podem abrir possibilidades para novos usos da política e para se “pensar o impensado” como uma teologia ineficiente, orientada, por exemplo, a partir da concepção hebraica do sábado. A leitura ensaiada nessa tese é diagramática e cria algum sentido para expressões teológicas, com ênfase no espirito e no tempo messiânico, na libertação e imanência de deus e na graça de uma “comunidade que vem”. Por fim, em uma dimensão inoperosa da escrita, a tese se encerra com uma intervenção artística nas ruas da cidade de São Paulo, nomeada como: “rastros de deus nos rastros de junho”.Item A besta de sete cabeças: monstruosidade e construção de fronteiras da cultura(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-04-01) DORNELES, Vanderlei; GARCIA, Paulo RobertoEsta tese empreende uma análise da metáfora apocalíptica da besta de sete cabeças em sua intertextualidade e em seu sistema semântico em textos da cultura do antigo Mediterrâneo. O estudo parte do Apocalipse de João e dos textos do mundo bíblico e avança para descobrir a rede textual ampla desta metáfora na cultura antiga. A metáfora da besta de sete cabeças é considerada como um texto da cultura e um sistema de representação da alteridade. O estudo se fundamenta nos conceitos de semiosfera, texto da cultura e intertextualidade, conforme entendidos pelos teóricos da chamada Semiótica da Cultura, de origem russa, dentre os quais se destaca Lotman como seu principal articulador. Também se apoia no conceito de metáfora, na linha de Lakoff e Johnson; e na noção do monstruoso como sistema de representação de alteridade grotesca, segundo Kristeva e Cohen, entre outros teóricos da noção do abjeto e monstruoso. Parte da pressuposição de que elementos semióticos e conceituais comuns, ativos na memória e no imaginário das culturas, evidenciam o entrecruzamento dos textos de diferentes épocas e lugares. A metáfora da besta é analisada em suas conexões semióticas com textos antigos nos quais também se verifica a construção de figuras monstruosas de múltiplas cabeças, como na Paleta de Narmer de cerca de 3100 a.C. e no Cilindro de Tell Asmar de 2200 a.C., entre outros. Essas conexões indicam que o texto profético do Apocalipse de João não é dado de forma isolada das linguagens e da cultura de seu tempo. Elas permitem também enxergar as narrativas proféticas do Apocalipse como um texto da cultura, capaz de diálogo e produção de sentidos com uma rede de outras narrativas e tradições. À luz da Semiótica da Cultura, a metáfora da besta é analisada como um sistema de representação da alteridade opositora, a partir de elementos monstruosos e abjetos. Nessa linha, a metáfora se apresenta como uma ferramenta capaz de construir fronteiras definidoras do próprio e do alheio, caracterizando o cristianismo primitivo como uma cultura emergente distinta das demais à sua volta, embora em constante diálogo e entrecruzamento com as mesmas.Item A Cristomorfia na literatura de memória joanina: estudo em 1 João 3.1-10(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-09-30) SANTOS, Antonio Carlos Soares dos; GARCIA, Paulo RobertoNovas pesquisas apontam, cada vez mais, para um cristianismo plural e com relações dialógicas com outras culturas e religiões, fato este, que força uma nova visão sobre o contexto nas memórias e literaturas cristãs primitiva. Dentre a vasta literatura dos primeiros séculos do cristianismo, destaca-se, particularmente, a de tradição joanina. Chegamos à conclusão que os textos joaninos que temos hoje por certo são frutos de um longo e complexo processo redacional. Com seu início por volta do ano 50 EC com relatos orais de Jesus promulgados e interpretados de acordo com a leitura feita por essas comunidades. Com o tempo foram sendo modificados com acréscimos e releituras. Dentro dessa perspectiva propomos uma expectativa presente em tais escritos: a Cristomorfia. Através da análise de um escrito dito canônico como I João 3. 1-10, analisaremos a literatura joanina advinda de suas memórias comunitárias e sua esperança cristomórfica. Observando a questão do conflito existente e que, possivelmente, levou a dissensão, o texto de 1 João é uma tentativa de afirmação identitária de uma comunidade. Há de se atentar para o fato de que o pensamento gnóstico estivesse presente na realidade de algumas comunidades, entre elas a de pertença ao apostolo João, o que provavelmente levou a uma defesa mais contundente a respeito da questão. No ápice dessa defesa encontramos indícios sobre a expectativa cristomórfica nas literaturas de memória joanina. Portanto, no texto que destacamos percebemos que a identidade da comunidade em 1 João perpassa pela ideia de uma futura natureza como a de Cristo.Item A experiência mística apocalíptica do Apóstolo Paulo como elemento fundante da justificação pela fé: uma análise exegética de Romanos 3(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-05-06) FORMICKI, Leandro; GARCIA, Paulo RobertoO presente estudo exegético tem por objetivo pesquisar Romanos 3:1-31 buscando perceber por que para o apóstolo Paulo tanto judeu como gentio são pecadores e carecem da glória de Deus (Rm 1:18-3:20). Por isso, não há diferença entre eles com relação à justiça (3:21-4:25). E por que para ele a justificação de Deus é pela fé em Jesus Cristo para todos que acreditam, tanto judeus como gentios, e não mais pela prática da lei (3:22-30). Diante disso, nossa hipótese é mostrar que a partir da experiência mística apocalíptica do Apóstolo Paulo descrita em Gálatas 1:1-24 e 2 Coríntios 12:1-4, ele propõe uma nova interpretação a respeito da “salvação do ser humano”. Isso pode ser confirmado em Romanos 3:1-31, onde ele expõe que a Torá não serve como um meio de salvação do ser humano, pois ela não é capaz de libertar o ser humano do poder escravizador do pecado que conduz à morte. Ao invés disso, o meio de salvação eficaz é quando o “ser humano é justificado por fé, sem obras da lei”. Certamente, esta experiência mística apocalíptica tira o Apóstolo Paulo da pertença do Judaísmo Sinaíta Sinagogal do Mundo Mediterrâneo, ou seja, de uma crença na aliança sinaítica que é condicionada ao cumprimento dos mandamentos da Torá e considera só o povo judeu como “exclusivo de Deus”, isto é, eleito para ser “santo/separado” e “puro” para Deus e o realoca em um espaço místico apocalíptico de identidade, onde ele assume que tanto judeus como gentios estão na condição de “pecadores (impuros)” e por isso, não são dignos de serem justificados por Deus, mas por meio da união/comunhão com o sagrado “a fé em Jesus” qualquer um pode ser considerado justo/inocente/puro e por isso, ser salvo da ira de Deus e receber a recompensa de uma vida eterna. Para tanto, fundamentaremos nossa pesquisa, nos estudiosos Gershom Scholem, Martinus De Boer e Mary Douglas, respectivamente do misticismo judaico, apocalíptica judaica e antropologia da cultura, além de revisar alguns escritos judaicos e algumas discussões exegéticas acerca do texto que vem ganhando notoriedade e controvérsias desde a segunda metade do século XX.Item A hermenêutica do testemunho: o texto de si e o texto para o outro como fundamentação da identidade religiosa(Universidade Metodista de São Paulo, 2022-06-27) ALMEIDA, Sérgio Cesar Prates de; PAULA, Blanches de; SOUZA, Vitor Chaves deO objetivo dessa pesquisa parte da perspectiva que a análise da fé não é um exercício a ser feito de forma simplesmente teórica, ela possui um elemento vivo e fundamental. O desejo do sujeito religioso inserido em um espaço coletivo o conduz ao compartilhar da fé permitindo com que ela se mantenha viva entre uma comunidade. Sendo assim, o reconhecimento da fé clama pelo testemunho do outro. Portanto, o testemunho é elemento fundamental para a constituição do sujeito religioso. A identidade religiosa se dá pela atitude de habitar o mundo do texto (discurso) que se revela no testemunho do outro. Desta forma, através dos referenciais apresentados aqui, acreditamos ser capaz de mostrar o sentido mesmo de reconhecimento de fé, e neste reconhecimento de fé o sujeito religioso se constitui, constrói sua identidade. Sendo assim, a hipótese que pretendemos fundamentar no percurso deste trabalho se conceitua nos seguintes termos: o testemunho é elemento constitutivo do sujeito religioso, pois este através da dinâmica da sua existência, que inclui o outro no movimento de si, produz seu próprio texto e recebe o texto do outro. É constitutivo porque sua identidade se dá pela atitude de habitar o mundo do texto (discurso) que se revela no testemunho do outro. Munidos dos referenciais que serão apresentados durante nosso percurso temos como objetivo investigar a originalidade do testemunho e como se dá a fundamentação do sujeito religioso por ele mediado.Item A Iconofagia Gospel: arte, corpo, consumo e suas ressignificações no cenário evangélico brasileiro contemporâneo(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-08-07) SILVA, João Marcos da; SOUZA, Sandra Duarte deA partir do fenômeno da explosão gospel da década de 90, houve uma inserção significativa dos evangélicos na sociedade de consumo e entretenimento, que corroborou para transformações na sua relação com as imagens, particularmente, as imagens de arte comercial produzidas para o mercado evangélico brasileiro. Com isso, os evangélicos passaram a consumir não somente os produtos, mas também as imagens geradas pela cultura gospel. Dessa forma, o presente trabalho procura mostrar, pelo olhar da cultura visual e da religião, o fenômeno da iconofagia gospel como o processo de devoração de imagens seculares e evangélicas. Por conseguinte, identificou-se, a partir da iconografia evangélica, as ressignificações do corpo no gospel e suas consequências nas devorações que alimentam e fomentam os processos de consumo e entretenimento no cenário evangélico brasileiro percebendo como estes impactos iconofágicos proporcionaram uma ressignificação do corpo e da iconografia cristã evangélica que fomentam o consumo e o entretenimento neste processo. A análise terá como base metodológica as teorias de Warburg (2010) sobre a produção iconográfica evangélica por meio dos conceitos da Pathosformeln (força de imagens) e da Nachleben (as imagens que sobrevivem e retornam no tempo) identificando as apropriações de imagens seculares pelo mercado evangélico no cenário gospel brasileiro, e de Baitello (2005), no que corresponde aos processos iconofágicos. No desenvolvimento deste estudo, o texto dialoga com a área da comunicação e da história da arte para uma melhor compreensão do crescimento da produção visual e do mercado gospel no Brasil.Item A loucura como forma-de-vida: ressonâncias profanas em Giorgio Agamben e Gilles Deleuze(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-03-27) CATENACI, Giovanni Felipe; SOUZA, Vitor Chaves deEste texto visa apresentar a plausibilidade da seguinte tese: É possível concebermos a esquizofrenia, tal como a definiu Gilles Deleuze, em ressonância com a ideia de forma-de- vida postulada por Giorgio Agamben. Conceitualmente, tais afirmações remontam ao fato da secularização inserir no mundo insuspeitos ares de sacralidade e violência, o que a nosso ver torna pertinente o esforço aproximativo das teses destes dois autores; que apesar de suas divergências teóricas, parecem dialogar como veremos, em relação aos diagnósticos e, saídas para os problemas do contemporâneo. Nossa hipótese pode ser traduzida como uma tentativa de pensar o “que vem” messiânico de Agamben, em ressonância com a obra filosófica deleuzeana. Metodologicamente, partimos do texto A imanência absoluta, no qual Agamben faz um comentário à Imanência: uma vida... que por sinal, é o último texto escrito por Deleuze, mas em sintonia com os volumes de Homo Sacer e outros escritos de Agamben, para traçar uma zona de vizinhança entre os dois autores, por intermédio da qual daremos seguimento a nossa análise. Temos por objetivo demonstrar que a loucura em Deleuze, pode ser lida pela perspectiva de Agamben, como forma-de-vida, e não como doença, mas como resistência criativa e produtiva capaz por sua vez de curto-circuitar os dispositivos de governo e axiomatização, em voga nas sociedades de controle hodiernas. É a vida que se encontra como critério último em ambos os pensamentos; liberá-la é o que lhes importa. Não a vida como inclinação natural para verdade, tampouco como projeção consciencial, tal como poderíamos pensar fenomenologicamente, mas, como processo produtivo de singularização, como movimento da própria potência imanente ao vivente, como forma-de-vida. A loucura pode ser vista como uma vida que na medida em que é vivida na imanência de sua forma é capaz de profanar, ou seja, tornar inoperosos os dispositivos religiosos da sociedade de controle, liberando com isso, a potência vital que se encontra aprisionada biopoliticamente pelo Estado de Exceção permanente em que vivemos.Item A performance inclusiva das narrativas visuais do Vale do Amanhecer(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-10-04) SANTOS, Altierez Sebastião dos; RENDERS, HelmutEsta pesquisa investiga narrativas visuais da religião do Vale do Amanhecer como foco na sua performance, inclusiva ou exclusiva, em comparação com as suas principais narrativas textuais. O objetivo é contribuir para os estudos visuais sobre este novo movimento religioso e demonstrar como a sua cultura visual articula uma linguagem religiosa própria que requer a atenção na pesquisa dos estudos da religião. Defende-se a hipótese que as narrativas visuais, presentes, tanto nos campos sagrados, em prédios “públicos” como em “oratórios” de casas, evidenciam uma performance mais inclusiva do que as narrativas textuais, porém, não sem revelar também aspectos ambivalentes. Para o desenvolvimento da pesquisa são identificados elementos inclusivos e exclusivos nas principais narrativas visuais e literárias do Vale do Amanhecer, em diálogo com a matriz cultural e religiosa brasileira, sob a consideração da performance cúltica do movimento. Para o desenvolvimento do estudo, parte-se de Aby M. Warburg e Mikhail Bakhtin quanto à importância de imagens na religião e sua relação como o imaginário religioso e da teoria de performance de Richard Schechner quanto ao seu impacto em ritos públicos e privados aqui mediados pelo impacto do imaginário garantido pelas narrativas visuais. Os resultados constatam a ambivalência das narrativas visuais e literárias refletidas na performance inclusiva do movimento.Item A refeição eucarística como marca identitária e pertença religiosa na comunidade cristã de Corinto(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-10-16) FREDERICO, Danielle Lucy Bósio; NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza“Comida é boa para se pensar”, assim afirma Claude Lévi-Strauss que, por meio da comida, procura discernir as sociedades e grupos ao redor do prato. As variações desse tema podem indicar desde hierarquias sociais, acesso ao alimento até aquilo que se encontra além. Tendo como instrumento a antropologia da comida e a “hermenêutica dos espaços”, buscamos uma melhor compreensão do bloco presente em 1Coríntios 8 a 11, o qual tem como tema central alguns tipos de refeição que se faziam presentes nas mesas greco-romanas e também na comu-nidade cristã em formação na cidade de Corinto. Essa comunidade do primeiro século, majori-tariamente constituída por pessoas do baixo estrato, busca, no ato de comer juntos, estabelecer proximidade, coesão e a criação de uma identidade própria frente aos inúmeros grupos religio-sos existentes no período. Para tanto, a refeição comunitária e o ritual eucarístico, estruturado como uma refeição funerária, buscam, dentre outras coisas, a preservação da memória e a par-ticipação do Cristo ressurreto, nova divindade estabelecida e celebrada pelos integrantes dessa comunidade de fé liderada pelo apóstolo Paulo. Como comida ritual, a sua performance preci-sa ocorrer de forma precisa, a fim de que alcance o objetivo esperado. Essa questão não estava sendo observada pelos integrantes desse grupo cristão, fazendo com que o apóstolo trouxesse a memória as tradições bem como a instituição do ritual eucarístico, a fim de, o mesmo fosse realizado apropriadamente. Essas reuniões, de caráter comunitário, poderiam acontecer em vários espaços, tais como lojas, domus e insulae, não havendo necessariamente um local fixo pré-estabelecido para elas. Entendemos que essas reuniões majoritariamente aconteciam nas insulae, dada a característica popular da comunidade cristã, e que essas reuniões deveriam ser itinerantes. Nelas a frugalidade alimentar era evidente e o ritual, estabelecido com os elemen-tos de pão e vinho, se fazia presente e possível. A presença viva da nova divindade, partici-pante de honra da refeição, teria sua vida e ensinamentos partilhados à mesa, a fim de que novas pessoas tivessem acesso a essa nova religião em formação. Comida, portanto, é boa para se pensar e também para se criar identidade, pois era reconhecida como elemento estruturante no mundo mediterrâneo tanto para vivos como para mortos.Item A religião na restauração pernambucana e sua repercussão no imaginário cívico regional(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-11-03) DONDA, Elaine Martins; WIRTH, Lauri EmilioO objetivo desta tese é analisar, a partir do campo das Ciências da Religião e da História, a presença da religião no evento conhecido como Restauração Pernambucana (1645-1654), especialmente em suas principais batalhas (1648-1649). A pesquisa intenciona compreender o papel da religião nas tensões coloniais entre luso-brasileiros e holandeses em dois níveis de sentido. Em primeiro lugar pretende mostrar como controvérsias religiosas entre católicos romanos e protestantes calvinistas foram assimiladas e ressignificadas no contexto da ocupação do Nordeste brasileiro pelos holandeses. Em segundo, analisar sua repercussão no imaginário cívico regional, tendo como suspeita a apropriação a posteriori deste evento por expressões de civismo regional. Para isso, esse trabalho será dividido em quatro etapas: (1) Apresentar o contexto da Capitania de Pernambuco, considerada como importante núcleo da produção açucareira e seu campo religioso, com hegemonia católica e, a partir de 1630, destacar aspectos do Brasil holandês com ênfase nas práticas religiosas dos holandeses, em sua maioria, de confissão reformada. (2) Descrever fatores externos e internos que desencadearam a Restauração Pernambucana (1645-1654) e como as divergências religiosas aguçaram as tensões, desencadeando a insurreição luso-brasileira. (3) Analisar as principais narrativas coevas e algumas posteriores acerca da Restauração Pernambucana a fim de compreender como a narrativa sobre a intervenção de Nossa Senhora dos Prazeres nas principais batalhas foi construída. (4) Verificar como as produções artísticas, especialmente ex-votos e painéis produzidos no século XVIII e XIX contribuíram para a alimentação do imaginário cívico regional.Item A tríade social e suas implicações para a teologia bíblica veterotestamentária: indícios de uma teologia marginal(Universidade Metodista de São Paulo, 2021-09-21) LAGE, Jovanir; SANTOS, Suely Xavier dosO presente trabalho expõe o interesse por uma leitura social do Antigo Testamento e busca desenvolvê-la, analisando um considerável sistema de leis que prevê os aspectos físicos e sociais de indivíduos em situação de vulnerabilidade. Os critérios sociológicos, aqui desenvolvidos, buscam distinguir da religião institucionalizada, uma religião invisível e marginal, com profundas raízes antropológicas e sociais. No centro deste sistema que abriga os marginalizados da sociedade, encontramos a Tríade Social: estrangeiro rGE,, órfão aרny" e viúva hn",n't.r". O objetivo de nossa pesquisa está em analisar a presença destas categorias no texto bíblico e como elas acenam para um significativo conjunto de normas jurídicas, produzidas por grupos de oposição à “religião oficial”, desenvolvendo concepções totalmente novas no campo teológico, político e cultual. O método encontrado para averiguar nossas suspeitas está no estudo exegético de textos bíblicos, em especial, textos deuteronômicos e textos extrabíblicos, tendo como suporte os achados arqueológicos em Khirbet Qeiyafa. Os resultados preliminares de nossa pesquisa nos dão pistas de que a prática social, muito difundida no antigo Israel, entendida como uma exigência divina, alcança contornos litúrgicos importantes na fixação dos valores éticos e sociais na comunidade. Nossa pretensão é destacar que o tema do pobre e do necessitado, representados em nossa pesquisa pela Tríade Social, bem como a preservação de seus direitos básicos, perpassa todo o Antigo Testamento, promovendo uma espécie de teologia marginal, que caminha paralelo aos temas e às dinâmicas oficiais de fé.Item As sagradas de Asherah e YHWH: narrativa e memória do sacerdócio feminino no templo de Jerusalém(Universidade Metodista de São Paulo, 2022-09-19) MATOS, Sue’Hellen Monteiro de; KAEFER, José AdemarEsta pesquisa analisa o sacerdócio feminino no templo de Jerusalém a serviço do casal divino, Asherah e YHWH, tendo como principal objeto a narrativa de 2Rs 23,4-14. A este objeto foram agregadas análises das evidências arqueológicas acerca do culto à Asherah e ao casal divino, bem como o exame das fontes textuais e iconográficas que asseveram as diversas categorias sacerdotais de mulheres no Antigo Oriente Próximo. Considerando os resultados destas análises conclui-se que “as mulheres que teciam vestes à Asherah”, mencionadas no texto bíblico (v.7), seriam, não apenas sacerdotisas de Asherah, mas também de YHWH. Com isto, a tese argumenta acerca da legitimidade do espaço cúltico das mulheres no principal templo de Judá, Jerusalém. Elas participam, não apenas no ambiente doméstico da religião privada, mas também no espaço de culto da religião pública, atuando também nos espaços de poder. No entanto, embora as “mulheres que teciam vestes à Asherah” sejam sacerdotisas, elas não são nomeadas como tal. Isto porque há uma política de memória de gênero por parte dos redatores bíblicos que selecionam o que narrar, como narrar, e o que esquecer. Por isso, analisou-se a construção narrativa e a política de memória de gênero do discurso ‘vitorioso’ de Josias que constrói um repúdio às mulheres, à Deusa e aos outros Deuses e seus sacerdotes expulsos em sua reestruturação religiosa exclusivamente javista. Esta pesquisa foi realizada a partir de levantamento bibliográfico de obras publicadas no Brasil e no exterior, as quais informam sobre estágio atual das pesquisas acerca de Asherah e suas sacerdotisas, tanto do ponto de vista da literatura bíblica quanto das evidências arqueológicas. O texto de 2Rs 23,4- 14 foi analisado através da exegese em perspectiva feminista. Esta metodologia inclui os passos do método histórico-crítico e crítica das formas, com a discussão das relações de poder entre os sexos dentro de uma cultura kyriarcal. Por fim, discutiu-se sobre o processo de silenciamento, ocultamento e desqualificação das mulheres que serviam à Deusa Asherah, e também a YHWH, bem como a própria linguagem violenta contra a Deusa. Esta discussão foi realizada a partir dos pressupostos teóricos de Paul Ricoeur sobre política de memória e de Elisabeth Schüssler Fiorenza acerca da hermenêutica da suspeita e da relembrança. Conclui-se que há uma política de memória de gênero utilizada pelos redatores bíblicos, a qual apaga a memória da Deusa Asherah e a desassocia de YHWH, assim como invisibiliza o sacerdócio feminino no templo de Jerusalém, negando às mulheres o espaço sagrado e de poder que outrora tinha sido ocupado por elas. Por conseguinte, elaborou-se uma nova política de memória: havia um culto oficial ao casal divino em Jerusalém, no qual mulheres e homens exerciam o sacerdócio.Item Bartolomé de Las Casas, Roger Williams e o problema da idolatria nos séculos XVI e XVII(Universidade Metodista de São Paulo, 2021-03-12) BARBOSA, Adriel Moreira; WIRTH, Lauri EmilioEsta pesquisa investiga uma possível relação entre as críticas de Bartolomé de las Casas e Roger Williams ao sistema colonial de suas respectivas nações, mas com um foco específico, que é a crítica à idolatria ao ouro e à terra. Ela explora a possibilidade de ambas terem sido dirigidas às transformações sociais decorrentes do incremento da economia mercantil, i.e., a possibilidade de a crítica de Bartolomé de las Casas à ambição dos conquistadores e a de Roger Williams ao avanço colonial novo-inglês sobre as terras pertencentes aos nativos americanos indicar que o conceito de idolatria teria sido usado de forma específica, como instrumento de crítica a certos aspectos da emergente economia mercantil. Assumo a hipótese de que certos fenômenos relacionados à expansão da economia de mercado tornavam as mudanças na ordem social mais intensas e agressivas à época desses personagens, confrontando uma tradição de longa duração sobre as questões econômicas, para as quais o melhor instrumento de crítica teria sido o conceito teológico de idolatria. Suas críticas estariam se orientando pelo deslocamento de sentido dos atos individuais e coletivos, devido à inversão de valores que se gestava na sociedade de seu tempo, o que tornava o comportamento humano guiado por motivações de natureza interesseira cada vez mais aceito. O objetivo é identificar nas obras de Bartolomé de las Casas e Roger Williams sua crítica à idolatria do ouro e da terra e determinar sua possível relação com as transformações decorrentes da influência da emergente economia de mercado. Para isso, são necessários quatro passos: (1) reconstruir o universo sociocultural e econômico dos séculos XVI e XVII, em relação à emergente economia de mercado, entendida nesta análise como um fenômeno de longa duração que, acompanhando as contribuições de Jacques Le Goff, Paul Hugon, Henri Pirenne, Marcel Mazoyer e Laurence Roudart, demonstram ter se intensificado no período mercantilista; (2) apresentar a crítica de Bartolomé de Las Casas à cobiça pelo ouro dos conquistadores e colonizadores na América espanhola, pela perspectiva de relação dessa crítica com o sistema de encomiendas; (3) apresentar a crítica de Roger Williams à cobiça pela terra dos colonos da Nova Inglaterra, considerando sua relação com o debate sobre a legitimidade do sistema de cartas-patentes (charters) e do argumento legal do vacuum domicilium; (4) analisar comparativamente a crítica à idolatria de Bartolomé de Las Casas e Roger Williams a partir da compreensão da potencialidade do conceito teológico de idolatria para a crítica das questões econômicas, mediante a compreensão do uso desse conceito como forma de denúncia de fetichismo e da oposição entre os ídolos que oprimem e o Deus que liberta, da teologia latino-americana, representada por Pablo Richard. Tal oposição seria claramente explicitada nos conflitos Javé-Ball (no Antigo Testamento) e Javé-Mamon (no Novo Testamento), que, por sua vez, estão relacionados e apontam para uma disputa política calcada na terra e no dinheiro.Item Com Deus não se brinca: o risível no evangelho de Marcos(Universidade Metodista de São Paulo, 2023-03-31) SANTOS, Paulo Sérgio Macedo dos; CARNEIRO, Marcelo da SilvaO objetivo central desta pesquisa é responder à questão: como identificar o riso e o risível nos textos sagrados do NT. Partimos de uma perspectiva de que as narrativas do cristia-nismo primitivo têm sua origem na cultura popular, lugar de encontro de gêneros distintos e de caraterísticas literárias irreconciliáveis. Marcos ao inaugurar o gênero “evangelho’ aponta em sua narrativa, dependente da cultura popular, todos os elementos necessários par se contar uma boa estória. O riso, no entanto, para ser identificado nas narrativas pre-sentes no texto marcano carece das contribuições da neurolinguística, da psicanálise, da filosofia da história e da crítica literária. Este trabalho se preocupa tanto em construir os caminhos que o risível fez na história da cultura cristã, bem como sua diabolização na Ida-de Média, assim como este era visto por pelas três principais culturas que influenciaram na construção do cristianismo. Em Marcos, os elementos que o identificam como produção da cultura popular são visíveis nas formas e elementos que constroem a narrativa. Esse texto impregnado de “cansaço”, de aliterações, é também possuidor de ironias e sarcasmo, como um autêntico produto do encontro de universos distintos e da união de estilos e gêneros igualmente distintos. Neste ambiente de encontro, no qual barreiras sociais são transpostas, os gêneros literários são imbricados, coexistindo mutuamente, destituindo de sentido as dicotomias artificialmente impostas. Ultrapassado este limite imposto por uma leitura tra-dicional dos textos sagrados, principalmente dos que foram canonizados, escapando da tradicional interpretação de que o riso nada mais é que uma falha moral, este surge como elemento substancial para a compreensão tanto das narrativas existentes no Evangelho de Marcos, bem como elemento formador e originário do cristianismo. A solidificação do cristianismo como padrão religioso, acabou por diabolizar este riso e, permitindo-o apenas por escárnio ao demônio visto que a ideia medieval era de que Cristo nunca riu. Isso foi necessário para que o cristianismo surgisse como força dominadora e que colaborasse para a ideia de divisão maniqueísta da realidade imposta pelas dicotomias sério/risonho; al-to/baixo; grotesco/sublime; sagrado/profano, isentando a literatura de contato com a reali-dade do entorno. Realidade de fala, de influencias culturais e linguísticas e de povo. Isen-tar o sagrado do riso foi uma alternativa para impô-lo como religião.Item Corpos em sofrimento e monstruosidades: modos fantásticos de narrar o inferno no apocalipse de Pedro(Universidade Metodista de São Paulo, 2021-08-31) MATTOS, Carlos Eduardo de Araújo de; LOPES, Marcio Cappelli AlóA seguinte pesquisa procura compreender como surge o imaginário do Cristianismo Primitivo a respeito de Inferno, especialmente observando o tratamento dado aos corpos das pessoas que ali pagam suas penas. Partimos do contexto religioso em que o movimento surge, observando os rituais e métodos como são feitos sepultamentos no mundo antigo, as honras e festivais dedicadas aos mortos na sociedade romana e partes das crenças em que se baseiam esses métodos. Destacamos a relevância de estudos a partir da literatura apócrifa para a compreensão do movimento cristão nascente e em seguida, apresentamos o contexto da apocalíptica judaica em que descrições do Inferno são forjadas e como o Cristianismo Primitivo recebeu e ressignificou essa tradição, dentro e fora dos cânones, para então apresentar as origens, versões e principais temas da fonte cristã apócrifa que escolhemos para pesquisar o tema, o Apocalipse de Pedro. Por fim, sublinhamos e analisamos trechos que consideramos importantes na fonte com o objetivo de perceber as diferenças de narrativas de tratamentos dos mortos entre a religião do Império e o movimento cristão, para buscar as motivações que causaram essas diferenças e que imaginários o Cristianismo Primitivo desenvolveu a partir dessas narrativas. Nossa hipótese é que, a partir de descrições fantásticas de manipulação de corpos no Inferno, de retórica de difamação sexual contra opositores e transformação desses opositores em figuras monstruosas, os cristãos primitivos desejaram exercer algum tipo de poder e controle sobre esses corpos e especialmente, sobre o Além-Mundo. Para obter êxito em nosso objetivo, dialogamos com autores da crítica literária que empreendem o modo fantástico de narrar, aplicamos sobre a fonte, o que pode ser chamado de teoria do monstruoso e aplicamos como metodologia, o conceito de apocrificidade, que empreende ler os textos canônicos e apócrifos como chaves de leitura complementares e igualmente importantes para a compreensão do mundo cristão primitivo.Item Crer e legislar: religiosidade e atuação política da deputada federal evangélica Benedita da Silva(Universidade Metodista de São Paulo, 2024-03-25) SANTOS, Eder William dos; SOUZA, Sandra Duarte de; CARNEIRO, Marcelo da SilvaEsta pesquisa trata da relação entre religiosidade e atuação política da deputada federal evangélica, Benedita da Silva, no período de 1987 a 2022. A análise foi feita desde o uso do termo interseccionalidade como uma perspectiva teórico-metodológica para os estudos de religião, especialmente para os Programas de Pós-Graduação em Ciências da Religião no Brasil. Perpassando pela investigação da sub-representação de gênero, raça e classe no Congresso Nacional brasileiro. Bem como pela pesquisa referente aos atravessamentos interseccionais em Benedita. Além de analisar a atuação política durante cinco mandatos como deputada. O objetivo principal da pesquisa é o de caracterizar e analisar a atuação da deputada federal evangélica, Benedita da Silva, durante os seus cinco mandatos, no que diz respeito às questões de gênero, raça e classe que envolvem tal atuação, e entender como a parlamentar negocia com sua religiosidade em seu fazer político. Nossa hipótese sobre a atuação política da Deputada Benedita da Silva demonstrou que durante os seus cinco mandatos foi de uma relativa autonomia em relação a sua confissão religiosa e, de igual modo, perante a sua instituição evangélica onde é membra. Por meio da combinação de diferentes metodologias aplicadas em cada capítulo, quais sejam, revisão bibliográfica, análise documental do portal da Câmara dos Deputados para o levantamento de proposições transformadas em normas jurídicas, acesso ao sítio e redes sociais da deputada, e pesquisa de campo com a realização de uma entrevista presencial com a parlamentar, apresentamos gênero, raça e classe como centralidade da categoria interseccional. Concluímos que a participação política da deputada no Parlamento, não anula a sua religiosidade, e a sua religiosidade provavelmente não interfere em sua atuação na vida política formal.Item David Keirsey e a religião: o papel da tipologia na compreensão de perfis religiosos(Universidade Metodista de São Paulo, 2020-03-20) STAROSKY, Enio; SOUZA, Vitor Chaves deEsta pesquisa pretende estudar o papel dos tipos de David Keirsey na compreensão de diversos perfis religiosos. Essa proposta apresenta-se como metodologicamente apropriada e efetiva na identificação, caracterização e compreensão dos vários tipos no campo religioso. Essa compreensão é tanto mais necessária quando se considera, entre outras razões, que a religião é – também do ponto de vista do temperamento – universal, para todos e que cada líder tem seu tipo específico. E que, especialmente para o líder religioso, é muito necessário evitar o preconceito psicológico de que seu tipo é o “correto” no que diz respeito à religião e seus valores. Conhecer o próprio estilo é uma base segura para exercer uma boa liderança, pois permite compreender e apreciar e valorizar todos os outros tipos, que ocorrem nas igrejas. “Compreender” é precisamente uma palavra chave para Keirsey (integra o próprio título de seus dois livros principais: Please Understand me – I & II) e é um imperativo para as religiões e igrejas. E ademais, não por acaso, de acordo com Pieper, é também palavra chave em nossa metodologia do “tipo ideal” pela Verstehen. A partir dessa base a presente tese examina e discute os conceitos e tipos de Keirsey – os quatro pares de preferências I/E, S/N, F/T e J/P; os quatro temperamentos SP, SJ, NF e NT; e os dezesseis tipos mais detalhados – em suas relações com preferências em diversas dimensões religiosas: espiritualidade, devoção, liderança, pregação, vida cristã, moral, pastoral, política etc.Item Deus tá com a gente: reelaborações teologais favelizadas não sacrificiais(Universidade Metodista de São Paulo, 2024-10-23) SILVA, Priscila Alves Gonçalves da; Jung Mo SungEsta tese, intitulada “Deus tá com a gente": reelaborações teologais favelizadas não-sacrificiais, objetiva apresentar a forma pela qual pessoas cristãs favelizadas transitam entre a teologia sacrificial institucional (da denominação batista) e aquilo que chamamos de curvaturas ou reelaborações teológicas não sacrificiais. Interpelados (as) como sacrificiáveis na favela e no asfalto, pessoas cristãs favelizadas, em situação de sofrimento social causado pelo neoliberalismo, reelaboram suas convicções teológicas de modo que a vida adquira novo sentido, não legitimado pelo sacrificialismo religioso e secularizado. Por meio de pesquisa bibliográfica e de pesquisa de campo – que contou com entrevistas semiestruturadas, escala de diferencial semântico e questionário semiaberto como instrumentos de coleta aplicados com 6 pessoas, sendo 2 da cidade do Rio de Janeiro e 4 de Niterói –, demonstramos que a realidade da favela em contraste com a vida no asfalto demanda respostas que a pertença religiosa por si só não pode oferecer. Neste sentido, por meio dos dados coletados, é possível afirmar que os (as) entrevistados (as) testemunharam sentidos novos de vida e fé sem a necessária raiz sacrificial do discurso teológico institucional e socioeconômico, ainda que partam dela. Concluímos que, apesar da identificação de elementos sacrificiais em suas formulações, o que se sobrepõe é um discurso teologal de natureza não sacrificial, onde uma imagem de Deus, salvífica inclusive quanto aos males contemporâneos, como o racismo e o machismo, é suscitada.Item Do texto à conversão: uma hermenêutica da identidade narrativa em John Wesley(Universidade Metodista de São Paulo, 2023-12-05) RIBEIRO, Lucas Andrade; RENDERS, Helmut; SOUZA, Vitor Chaves deA pesquisa trata da natureza teológica da conversão de John Wesley, a saber, de seu caráter mister de processualidade. Ao analisar os eventos do final da década de 1730 próximos a experiência religiosa de Aldersgate, levanta-se a hipótese, a ser conferida, de uma constituição hermenêutica de sua conversão correlata à característica constante e inexaurível de tal processo. O objetivo da tese é investigar a continuidade inerente das concepções teológicas circunscritas às experiências religiosas fundantes de John Wesley com uma implicação latente: a conversão em John Wesley possui uma propriedade processual. O objetivo geral, portanto, reside em uma hermenêutica da ipseidade de John Wesley pela concepção de conversão processual em diálogo e constraste com a tradição wesleyana, visando construir sua identidade narrativa. Os objetivos específicos tratam dos fenômenos consequentes da conversão processual, como o ofício religioso de Wesley no século 18, o impacto de seus textos no metodismo e nos movimentos religiosos diretamente ou indiretamente originados por sua influência. No primeiro capítulo o referencial metodológico é apresentado juntamente às influências teológicas de John Wesley, como a dimensão do símbolo e a dinâmica de sua conversão entre as polaridades de sentido e significado. O segundo capítulo, por sua vez, trata dos textos de John Wesley a respeito de sua conversão e desenvolve uma hermenêutica amplificadora da conversão tendo na processualidade o solo interpretativo da narrativa wesleyana. Por fim, o terceiro capítulo trabalha o núcleo da tese, a saber, a síntese da compreensão de que a identidade narrativa de John Wesley é constituída simbolicamente numa concepção processual de conversão. A metodologia empregada é a teórico-qualitativa, com articulação analítico-crítica e incidência filosófica, histórica e teológica. O referencial metodológico encontra na hermenêutica de Paul Ricoeur em Temps et Récit a sua estruturação e função. Portanto, a tese espera demonstrar e defender a conversão processual de John Wesley, gerando, como consequência, uma identidade narrativa mediada pela ipseidade do movimento processual de uma conversão mediada e mediadora de sentidos situados não no tempo, mas, na narrativa da experiência.Item Ecos pascalianos na descrição da condição humana em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, de Machado de Assis(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-04-12) FUCHIGAMI, Ivna Maia; RENDERS, HelmutA presente tese de doutorado objetiva abordar a condição humana no viés de Blaise Pascal, que foi de grande influência e inspiração para o escritor Machado de Assis. Ambos percebiam o ser humano lutando entre o divertissement, o ennui, a concupiscência e a vaidade, entre outros aspectos. Embora se trate de um filósofo do século XVII e de um autor do século XIX, ocorrem vários pontos em comum entre ambos uma vez que cada um, à sua maneira, perscrutou a alma humana, plena de contradição, miséria, incertezas. Para ambos, a condição humana vai ser permeada pela contradição e pela ironia que a vida dá: se se deseja a verdade, só se encontram incertezas; se se procura a felicidade, só se encontram miséria e morte. Machado de Assis e Blaise Pascal mostram a involução do ser humano e colocam os leitores no turbilhão, em que estes são obrigados a pensar e a discernir, o que implica sofrimento. Para escritor e o filósofo, o ser humano é desordenado, miserável, contraditório, correndo entre a necessidade e o ennui. Cientes de que não dá mais para fingir que não se enxerga, ambos nos induzem a fazer a diferenciação, a ter discernimento. É nesta hipótese que, na compreensão sobre a condição humana, Machado de Assis se inspira nos escritos e pensamentos de Blaise Pascal até o ponto de integrar parcialmente sua linguagem na sua obra. A hipótese levantada é a existência de semelhanças entre a visão de mundo de um filósofo francês do século XVII e de um escritor brasileiro do século XIX. Para tanto, o método empregado foi um minucioso levantamento bibliográfico a fim de elencar as reflexões de Pascal que encontram eco nas três obras machadianas, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro objeto da presente tese, a fim de comprovar a hipótese mencionada. Feito isso, elaborou-se uma leitura detalhada da obra Pensées e das três obras, detectando-se onde, nos romances, era possível perceber os conceitos de divertissement, ennui, concupiscência e vaidade. Tanto Machado de Assis quanto Blaise Pascal consideravam o ser humano como um conjunto de incoerências e contradições trágicas, desprovido de qualquer tipo de apoio ou segurança moral. Pascal conclama o surgimento do ser moral, que é aquele que sente a culpa. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, os personagens são seres destituídos de culpa e, portanto, não possuem a consciência da Queda. Machado de Assis analisou o ser humano em sua insuficiência, contingência, sem discursos emocionais ou apologéticos, inspirando-se em Blaise Pascal para assim, explicar a condição humana. Para tanto, são propostas as obras machadianas Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro uma vez que nestas sobejam o ser humano que, na reflexão pascaliana, é doente e decadente. Como autores de base, são apresentados Blaise Pascal, Machado de Assis, Vincent Carraud, Luiz Felipe Pondé, Alfredo Bosi e Afrânio Coutinho.