Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
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Navegando Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião por Autor "BARCALA, Martin Santos"
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Item “O povo não me entendeu direito”: Thomas Müntzer e a religião popular no início do século 16(Universidade Metodista de São Paulo, 2022-10-20) BARCALA, Martin Santos; WIRTH, Lauri EmilioA pesquisa se ocupará da reflexão teológica de Thomas Müntzer (1489?-1525), concentrando- se na interface de seus escritos com a cultura e religiosidade popular do século 16. O objetivo será demonstrar o lugar fronteiriço da reflexão de Müntzer no contexto cultural em que ele vivia. Por ter sido comprimida nos parâmetros estabelecidos pelas tradições teológicas luteranas e católicas, de um lado, e pela historiografia marxista, de outro, a biografia e reflexão de Müntzer foi apresentada ora como expressão de um fanatismo insano e diabólico, ora como encarnação de um heroísmo revolucionário precoce. Como se verá no decorrer desta tese, estes extremos desconsideram a complexa relação entre Müntzer e o povo – ou o “homem comum” (der gemeine Mann) – e, ao fazê-lo, negligenciam o caráter fronteiriço característico do pensamento e da prática do reformador, bem como negam ao povo seu dinamismo religioso próprio, concebendo-lhe sempre como tutorado, para o bem ou para o mal, e invariavelmente passivo. Frequentemente, Müntzer se posiciona a favor dos direitos e das reivindicações do “homem comum”. Todavia, ao se referir a eles, emprega adjetivos no mínimo ambíguos, tais como “pobre, rude povo, digno de compaixão e misericórdia”. Em sua última correspondência, já prisioneiro no castelo de Heldrungen, na Turíngia, o reformador assume um tom exasperado: “o povo não me entendeu direito...”. Portanto, é no atravessamento de múltiplas fronteiras que Müntzer precisa ser ouvido e compreendido. Dentre elas, a atual pesquisa escolheu a interação entre Müntzer e a religião popular. Tendo em vista a natureza de seu objeto, a pesquisa recorreu a referenciais teóricos que se dedicam ao estudo da cultura e religião popular na Idade Média e no início da modernidade. Defenderá a hipótese de que Müntzer encarna o papel do tradutor cultural que alterna fidelidades entre a cultura oficial, letrada, erudita e a cultura subalterna, popular, oral. Sua obra condensa não apenas prenúncios de tempos vindouros, mas igualmente ressoa períodos preteritamente longínquos. Durante sua breve e movimentada vida, Müntzer habitou quase cinco dezenas de cidades. Acostumou-se às fronteiras também neste aspecto. Para demonstrar a hipótese levantada, a metodologia adotada será uma análise exegética do corpus textual de Müntzer publicado em três volumes: as fontes históricas primárias para a sua biografia, isto é, os registros contemporâneos de suas atividades contidos nas atas e relatórios dos conselhos municipais e dos correspondentes administrativos oficiais, no caso das cidades imperais; a sua própria correspondência pessoal com diferentes atores sociais e sobre diversos temas; e seus escritos mais propriamente teológicos, dentre os quais merecem atenção cuidadosa sua produção litúrgica em alemão, conteúdo pouquíssimo explorado pela pesquisa a seu respeito.