O massacre do Carandiru sob o olhar de um policial educador e de um educador policial

Abstract

O Massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992, permanece como um dos episódios mais trágicos e emblemáticos da história do sistema prisional brasileiro, resultando na morte de 111 detentos durante a intervenção da Polícia Militar no Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo. Assim sendo, esta pesquisa busca analisar o evento tendo em consideração duas perspectivas complementares: a do policial educador e a do educador policial. A primeira compreende a atuação do agente de segurança como prática cidadã e humanizadora, integrando a educação em direitos humanos ao cotidiano policial e defendendo a superação de práticas repressivas por meio do diálogo e da mediação de conflitos. Já a segunda foca na formação institucional, propondo uma pedagogia crítica voltada à transformação da cultura policial, à valorização da dignidade humana e à construção de uma segurança pública democrática. A pesquisa parte da compreensão de que a atuação policial deve estar intrinsecamente ligada à promoção da cidadania e à proteção dos direitos fundamentais, conforme preconiza a Constituição Federal de 1988, e que a formação profissional, pautada por princípios éticos e humanizadores, é essencial para prevenir tragédias como a de 1992. O estudo evidencia que o modelo de segurança vigente, historicamente marcado por práticas autoritárias e pelo uso excessivo da força, é resultado de um processo formativo que privilegia o adestramento técnico em detrimento da reflexão crítica. Fundamentando-se nos aportes teóricos de Paulo Freire e Dermeval Saviani, o trabalho propõe a integração da pedagogia libertadora e da educação como prática social intencional aos currículos policiais, de modo a formar profissionais conscientes de seu papel social e preparados para atuar na sociedade de forma justa e democrática. Assim, chega-se à conclusão de que a transformação da segurança pública requer tanto a reformulação curricular quanto a mudança cultural nas instituições policiais, com valorização da formação cidadã, promoção da escuta e fortalecimento do vínculo entre polícia e comunidade. Portanto, o Massacre do Carandiru é compreendido não como um fato isolado, mas como uma expressão de uma falha estrutural que pode ser superada por meio de uma formação que una segurança e educação em favor da dignidade da pessoa humana.

The Carandiru Massacre, which occurred on October 2, 1992, remains one of the most tragic and emblematic episodes in the history of the Brazilian prison system, resulting in the deaths of 111 inmates during a Military Police intervention in Pavilion 9 of the São Paulo House of Detention. Therefore, this research seeks to analyze the event taking into account two complementary perspectives: that of the police officer as educator and that of the educator as police officer. The former understands police work as a citizen-centered and humanizing practice, integrating human rights education into daily law enforcement activities and advocating the replacement of repressive practices with dialogue and conflict mediation. The second one, however, focuses on institutional training, proposing a critical pedagogy aimed at transforming police culture, valuing human dignity, and building democratic public security. The research is based on the understanding that police work must be intrinsically linked to the promotion of citizenship and the protection of fundamental rights, as established in the 1988 Federal Constitution, and that professional training guided by ethical and humanizing principles is essential to prevent tragedies such as that of 1992. The study shows that the current security model, historically marked by authoritarian practices and excessive use of force, results from a training process that privileges technical instruction over critical reflection. Based on the theoretical contributions of Paulo Freire and Dermeval Saviani, this work proposes the integration of liberation pedagogy and education as intentional social practice into police curricula, in order to train professionals who are aware of their social role and prepared to act in society in a just and democratic way. Thus, it can be concluded that the transformation of public security requires both curriculum reform and cultural change within police institutions, with an emphasis on civic education, fostering active listening, and strengthening the bond between police and community. Therefore, the Carandiru Massacre is understood not as an isolated event, but as an expression of a structural failure that can be overcome through training that unites security and education in favor of the dignity of the human person.