Experiências psicossociais de dor durante o trabalho de parto e parto normal

Abstract

O estado gravídico é um período repleto de expectativas diante do desconhecido, inclusive o momento do parto. A literatura aponta que o medo da dor, no processo de parir, tem influenciado mulheres a optar por cesáreas eletivas ou por ter menos filhos. Ao investigar a dor, entretanto, observa-se que, embora seja um evento fisiológico, sua intensidade é influenciada por vários fatores psicossociais. Diante disso, os objetivos deste estudo foram: descrever e analisar as experiências psicossociais das parturientes durante o trabalho de parto, parto normal e nascimento; verificar como manejam e enfrentam a dor durante essa experiência. Para atingir estes objetivos, realizou-se uma pesquisa qualitativa com três estudos de caso. Os instrumentos foram: filmagem e observação do trabalho de parto e parto; entrevista no primeiro dia após o parto; entrevista 30 dias após o parto. Para a análise das filmagens, a pesquisadora selecionou momentos específicos de manifestação de dor de cada participante e enviou para três juízes avaliarem, segundo uma escala de intensidade de manifestação da dor, as respostas faciais, corporais e vocais. Estes resultados passaram por três análises: comparação entre os juízes, com a observação da pesquisadora e com a interpretação da parturiente sobre este processo. Verificou-se que cada mulher reage à dor de uma forma diferente e particular, que está intimamente relacionada com sua maneira de se expressar em outras situações da vida. A Participante 1, de 15 anos, recorreu constantemente à mãe e à equipe. Embora fosse colaborativa, demonstrou intensamente a dor. A Participante 2, de 17 anos, apresentou comportamentos contidos de expressão de dor, fez pouco contato com o acompanhante (o pai do bebê), com a equipe e com a pesquisadora, de forma semelhante ao comportamento estabelecido nas entrevistas. Estas duas participantes recorreram mais ao apoio de pessoas do que aos recursos de alívio da dor oferecidos pela equipe, como bola, chuveiro etc. A Participante 3, de 33 anos, de maneira diferente das outras, demonstrou mais preocupação com o bebê, durante todo o processo, e fez mais uso dos recursos disponibilizados pela equipe. Por se tratar de uma mostra pequena, não é possível fazer generalizações. Seria importante a realização de outros estudos que possam confirmar ou contestar estes resultados. Verificou-se que a inclusão de um profissional de Psicologia da Saúde na assistência ao ciclo gravídico puerperal pode oferecer benefícios à gestante, ao acompanhante e à equipe, durante todo o processo, especialmente no parto, utilizando-se de técnicas aplicadas, frequentemente, em urgências e emergências.The pregnant cycle is a period full of expectations given the unknown that lies ahead the pregnant woman, including birth itself. Literature notes that the fear of the pain of giving birth has been influencing women to opt for cesarean sections or to opt having less children. When investigating the pain, however, it is observed that even though the pain is a physiological event, its intensity is influenced by many psychosocial factors. That said, the objectives of this study were to: describe and analyze the experiences psychosocial of pregnant women during labor and normal birth; verify how the women manage and deal with the pain during this experience. To achieve these goals, three qualitative case studies were performed. The instruments used for the study were: filming and observing labor and birth; interviewing one day after birth; interviewing 30 days after birth. To analyze the filming, the researcher selected specific moments of the manifestation of pain of each participant and sent the filming to the juries for evaluation according to a range of pain intensity manifestation, the face, body and vocal expressions. These results passed through 3 different types of analyses: the comparison among juries, the researcher observation and the interpretation of this process by the pregnant woman. It was verified that each woman reacts to pain in a different and private way, which is closely related to the woman’s manner of expressing herself in other areas of her life. Participant number 1, 15 years old, resorted many times to her mom and to the staff. Even though she was collaborative, she demonstrated her pain very intensely. Participant number 2, 17 years old, presented contained behaviors of expressing pain, made small contact with her companion (the baby’s father), with the staff and with the researcher, which was the same behavior demonstrated during the interviews. The first 2 participants resorted more to the support of people than to the resources for pain relief offered by the staff, like the ball and the shower. Participant number 3, 33 years old, in a different manner than the others, demonstrated more concern for the baby throughout the whole process and used more the resources made available by the staff. As this study was made with a small sample, it is not possible to make generalizations. It would be important to have other studies performed that could confirm or contest the results presented by this study. It was verified that the inclusion of a professional from the psychology field in assisting the pregnant cycle can offer benefits to the pregnant woman, the companion and the staff during the whole process, including the birth, utilizing techniques that are often used in urgencies and emergencies.