Em busca de Maria no Brasil colonial: uma abordagem de gênero à “mariologia” de José de Anchieta e os desafios do tempo presente

Abstract

O presente trabalho analisa a atuação da catequese jesuítica no Brasil do século XVI, com foco principal nas representações de Maria, mãe de Jesus, construídas nesse contexto. Procura interpretar as narrativas sobre Maria, valendo-se das teorias de gênero, para entender as construções sociais dessas representações. O Poema à Virgem, de José de Anchieta é o texto principal dessa análise, porém algumas das suas cartas, o seu catecismo e os teatros também foram analisados. O objetivo principal é demonstrar qual foi a mariologia desenvolvida por Anchieta e, consequentemente, observar os possíveis desdobramentos dessa mariologia no controle dos corpos dos povos originários, principalmente sob a imagem de Maria Tupansy em relação com as mulheres tupinambá. Nesse sentido a hipótese que levanto é que a catequese Anchietana, como base da organização social e religiosa, inicia a disparidade de gênero. Portanto, a tese que aqui defendo é a de que a imagem da Virgem, da Mãe de Deus, funcionou como parte do discurso de controle social, buscando garantir a moralidade, os papéis de gênero, a divisão do trabalho entre os sexos nos aldeamentos do Brasil colônia, no século XVI, contribuindo, assim, para o sucesso do sistema colonial. A teórica que ajuda a fundamentar essa suspeita é Elisabeth Shüssler-Fiorenza, sob o argumento da suspeita, de se fazer uma hermenêutica crítica de libertação ao sistema religioso patriarcal. O modelo de mulher cristã, na figura de Maria é subsídio de linguagem, às relações de gênero. O método utilizado é o de análise bibliográfica dos textos de Anchieta, bem como de obras contemporâneas conexas ao tema central da tese.The present work analyzes the performance of Jesuit catechesis in 16th century Brazil, with the main focus on the representations of Mary, mother of Jesus, built in this context. It seeks to interpret the narratives about Mary, using gender theories, to understand the social constructions of these representations. José de Anchieta's Virgin poem is the main text of this analysis, but some of his letters, his catechism and the theaters were also analyzed. The main objective is to demonstrate what was the mariology developed by Anchieta and, consequently, to observe the possible consequences of this mariology in the control of the bodies of the original peoples, especially under the image of Maria Tupansy in relation to women Tupinambá. In this sense the hypothesis I raise is that Anchietan catechesis, as the basis of social and religious organization, begins gender disparity. Therefore, the thesis that I argue here is that the image of the virgin, the mother of God, functioned as part of the social control discourse, seeking to ensure morality, gender roles, the division of labor between the sexes in the villages of Brazil Colony, in the sixteenth century, thus contributing to the success of the colonial system. The theoretical that helps to substantiate this suspicion is Elisabeth Shüssler-Fiorenza, on the grounds of suspicion, to make a critical hermeneutics of liberation to the patriarchal religious system. The model of Christian woman, in the figure of Mary is language subsidy, to gender relations. The method used is bibliographic analysis of Anchieta's texts, as well as contemporary works related to the central theme of the thesis.