A relação entre Hermes, eros e Logos como via de acesso ao conhecimento revelado no Poimandres

Abstract

A presente pesquisa procura analisar a narrativa do tratado primeiro do Corpus Hermeticum, intitulado Poimandres, visando identificar a relevância da relação entre a personagem mítica de Hermes – que tomamos como o homem hermético ideal -, eros - como força que move a alma na direção da reintegração com uma unidade originária e noética - e Logos. Procuramos demonstrar como a relação entre estas três instâncias se apresenta como via de acesso ao conhecimento que, neste texto, é revelado; e que o acesso ao mundo proposto neste texto se dá mediante a articulação destes elementos na vida, no cotidiano e na realidade do leitor-intérprete. Seguindo Mircea Eliade (2011) e J. Peter Södergård (2003), a perspectiva de que os textos herméticos funcionem como autoiniciáticos ressalta a relevância de uma análise à luz da hermenêutica filosófica, por meio da qual procuramos demonstrar que, muito mais do que uma religio mentis, o hermetismo compreende uma religião do Ser: a abertura voluntária a uma busca que nunca se completa completamente, uma busca por algo que está sempre além, em outro lugar, sempre mais adiante, e que pressupõe um trabalho hermenêutico do leitor- intérprete-iniciado que, questionando sua própria condição existencial, procura, nesta abertura ao Ser e ao sagrado, caminhos pelos quais possa modificar sua maneira de compreender o mundo e de estar no mundo.

The present study seeks to analyze the narrative of the first treatise of the Corpus Hermeticum, entitled Poimandres, aiming at identifying the relevance of the relation between the mythical character of Hermes - which is taken as the ideal hermetic man -, eros - as a power that moves the soul towards the reintegration with an originary and noetic unity - and Logos. We seek to demonstrate how the relationship between these three instances presents itself as the path to access the knowledge that, in this study, is revealed; and that access to the world proposed in this text occurs through the articulation of these elements in our life, in our routine and in the reality of the reader-interpreter. Following Mircea Eliade (2011) and J. Peter Södergård (2003), the perspective that hermetic texts work as self-initiating highlights the relevance of an analysis in the light of philosophical hermeneutics, through which we seek to demonstrate that, much more than a religio mentis, hermeticism comprises a religion of Being: the voluntary opening to a search that is never completely complete, a search for something that is always beyond, in another place, always further ahead, and which presupposes a hermeneutic work by the reader- interpreter-initiate who, questioning their own existential condition, seeks, in this openness to Being and to the sacred, the paths through which they can change their way of understanding the world and being in the world.