A mentalidade anticapitalista: investigações teológicas em Ludwig von Mises

Abstract

A presente pesquisa pretende investigar pressupostos mítico-teológicos no interior do livro “A Mentalidade Anticapitalista” (1956) de Ludwig von Mises. Considerando que o neoliberalismo não é apenas um modo de regulação dos sistemas de trocas econômicas baseado na maximização da concorrência e do livre mercado, mas um regime de gestão social e produção de formas de vida, busca-se, enquanto objetivo específico desvelar os pressupostos mítico-teológicos que estruturam “A mentalidade anticapitalista”. No percurso teórico-metodológico, parte-se da premissa de que a economia trabalha muitas vezes com pressupostos teológicos e que há uma teologia endógena as concepções econômicas. Ao contrário do que a teoria da secularização do mundo moderno fez, o que se pretende, portanto, não é negar ou ocultar valores transcendentes e formas divinais produzidas pelas relações produtivas e sociais historicamente contextualizadas, ou afirmar que não há mais o transcendente ou referência à transcendência na lógica e no discurso neoliberal. Antes, compreender como a racionalidade neoliberal sequestra e funcionaliza temas e estruturas teológicas. Em outras palavras, perceber entrelaçamentos entre economia e teologia, com consequências sérias para a maneira de encarar e enfrentar os problemas contemporâneos. Ao entrar na análise teológica de "A Mentalidade Anticapitalista", passaremos por seis conceitos teológicos: 1) noção de horizonte mítico; 2) sacralização e soberania do mercado; 3) guerra dos deuses; 4) terra prometida; 5) sacrifício de vidas humanas; 6) culpa. É certo que Mises não trata esses temas com uma linguagem religiosa tradicional, mas a mudança no linguajar não significa necessariamente que estas questões não estejam sendo tratadas de uma forma mítico-religiosa.

This present research aims to investigate mythological-theological assumptions within the book “The Anticapitalist Mentality” (1956) by Ludwig von Mises. Considering that neoliberalism is not just a way of regulating economic exchange systems based on maximizing competition and the free market, but a regime of social management and production of life forms, it is sought, as a specific objective, to unveil the mythical assumptions -theological structures that structure “The anti-capitalist mentality”. In the theoretical-methodological path, we start from the premise that economics often works with theological assumptions and that there is an endogenous theology to economic conceptions. Contrary to what the secularization theory of the modern world did, what is intended, therefore, is not to deny or hide transcendent values and divine forms produced by historically contextualized social and productive relations, or to affirm that there is no longer the transcendent or reference to transcendence in logic and neoliberal discourse. Rather, understand how neoliberal rationality hijacks and functionalizes theological themes and structures. In other words, to perceive interweavings between economics and theology, with serious consequences for the way of facing and facing contemporary problems. When entering the theological analysis of "The Anticapitalist Mentality", we will go through six theological concepts: 1) notion of mythical horizon; 2) sacralization and market sovereignty; 3) war of the gods; 4) promised land; 5) sacrifice of human lives; 6) guilt. It is true that Mises does not deal with these themes in a traditional religious language, but the change in language does not necessarily mean that these issues are not being treated in a mythical-religious way.