Rosacrucianismo: espiritualidade e identidade moderna

Abstract

O rosacrucianismo é um movimento cultural, místico e ideológico que começa a se formar na Europa no século XVII, tornando-se público através de três manifestos lançados entre 1614 e 1616, e que propõe uma Reforma Geral, individual e coletiva, através de uma síntese teórica e prática de sabedorias esotéricas. A presente pesquisa teve como objetivo analisar, a partir dos sujeitos e grupos rosacrucianos, suas identidades e os particularizar como “espiritualidades modernas”. Foram eleitos os dois maiores grupos rosacruzes contemporâneos: a Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC), fundada por Harvey Spencer Lewis em 1915, e a Fraternidade Rosacruz (FR), fundada por Max-Heindel em 1909, ambas organizações que se afirmam herdeiras do rosacrucianismo do século XVII. Tal análise foi realizada a partir de uma perspectiva quanti-quali, através de questionários aplicados por survey online (Questionários de identidade rosacruz; sócio-cultural econômico; critérios de espiritualidade moderna de Hervieu-Lèger; controle institucional e regulação da verdade; Escala de Centralidade Religiosa), de produções bibliográficas das organizações e por observação participante em organismos afiliados. Percebeu-se que ambas organizações compartilham da mesma lógica mítica, porém com validações e estruturas de controle diferentes: a AMORC, com uma validação mais institucional baseada em conformidade do sujeito ao poder institucional, e a FR com validação mais comunitária baseada na coerência do sujeito aos ideais do grupo. De modo geral, os rosacruzes estão em uma faixa de instrução e de renda altas; preservam múltiplas pertenças religiosas e de organizações iniciáticas; com maior centralidade nas práticas espirituais coletivas do que nas individuais. Os resultados obtidos demonstram que o rosacrucianismo atende aos critérios de espiritualidades modernas, tendo influências de trânsito com a Nova Era, mas não pode ser reduzido a esta.

Rosicrucianism is a cultural, mystical and ideological movement that begins to form in Europe in the 17th century, becoming public through three manifestos released between 1614 and 1616, and which proposes individual and collective General Reform, through a synthesis theory and practice of esoteric wisdom. The present research aimed to analyze, from the subjects and Rosicrucian groups, their identities and to particularize them as “modern spiritualities”. The two largest contemporary Rosicrucian groups were elected: the Ancient and Mystical Rosicrucian Order (AMORC), founded by Harvey Spencer Lewis in 1915, and the Rosicrucian Fraternity (FR), founded by Max-Heindel in 1909, both organizations claiming to be heirs of the seventeenth-century Rosicrucianism. This analysis was carried out from a quanti-quali perspective, through questionnaires applied by online survey (Questionnaires of Rosicrucian identity; economic socio-cultural; criteria of modern spirituality of Hervieu-Lèger; institutional control and regulation of truth; Scale of Religious Centrality), from bibliographical productions of the organizations and by participant observation in affiliated organizations. It was noticed that both organizations share the same mythical logic, but with different validations and control structures: AMORC, with a more institutional validation based on the subject's conformity to institutional power, and FR with a more community validation based on the subject's coherence the group's ideals. In general, Rosicrucians are in a high income and education range; preserve multiple religious affiliations and initiatory organizations; with greater centrality in collective spiritual practices than in individual ones. The obtained results demonstrate that Rosicrucianism meets the criteria of modern spiritualities, having transit influences with the New Age, but it cannot be reduced to this one.