“Não somos daqueles que dominam a fé dos outros”: tolerância, irenismo e liberdade de consciência em Jacó Armínio

Abstract

Jacó Armínio (1559-1609) foi um pastor da Igreja Reformada da Holanda (1587-1603) e professor da Universidade de Leiden (1603-1609). Ele é mais conhecido no debate sobre predestinação e a liberdade humana, assuntos os quais esteve envolvido em debates teológicos nos Países Baixos quinhentista e seiscentista e que acaloraram o protestantismo neerlandês nesse mesmo período. A presente pesquisa, no entanto, investiga aspectos ainda não explorados desse pensador neerlandês sobre tópicos relacionados à tolerância religiosa, o irenismo e a liberdade de consciência e tem, por objetivo, contribuir com a historiografia da tolerância e com os estudos sobre Armínio, transcendendo as abordagens teológicas vinculadas ao tripé antropologia, hamartiologia e soteriologia. Trata-se de uma pesquisa analítico-exploratória das fontes primárias de Armínio numa perspectiva da história das mentalidades em sua dimensão da história cultural em diálogo com o método histórico contextualista e a história da teologia. Verificou-se que, dentro dos contextos de querelas religiosas, Armínio somou sua voz aos pensadores pré-modernos que defendiam a liberdade de consciência e as concórdias pública e religiosa. A pesquisa também contribui para um revisionismo biográfico de Armínio, revisitando e reavaliando algumas narrativas estabelecidas por C. Bags sobre Armínio ter mudado de pensamento, bem como propondo um desenvolvimento do pensamento de Armínio em quatro fases.Jacobus Arminius (1559-1609) was a pastor of the Dutch Reformed Church (1587-1603) and professor at the University of Leiden (1603-1609). He is best known for the debate on predestination and human freedom, matters which he was involved in theological debates in the 16th and 17th century Netherlands and which heated Dutch Protestantism in the same period. The present research, however, investigates aspects that have not yet been explored about this Dutch thinker on topics related to religious tolerance, irenicism and freedom of conscience, and aims to contribute to the historiography of tolerance and studies on Arminius, transcending the theological approaches linked to the tripod anthropology, hamartology and soteriology. It is an analytical-exploratory research of Arminius' primary sources in a perspective of the history of mentalities in its dimension of cultural history in dialogue with the contextualist historical method and the history of theology. It was found that, within the context of religious quarrels, Arminius added his voice to pre-modern thinkers who defended freedom of conscience and public and religious concord. The research also contributes to a biographical revisionism of Arminius, revisiting and re-evaluating some narratives established by C. Bags about Arminius having changed his thinking, as well as proposing a development of Arminius' thought in four phases.