Navegando por Autor "CAVALHERI, Guilherme de Figueiredo"
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Item Heróis e feras na arena: folclore e imaginário animal no Atos Apócrifos de Paulo(Universidade Metodista de São Paulo, 2019-03-19) CAVALHERI, Guilherme de Figueiredo; NOGUEIRA, Paulo Augusto de SouzaA presente dissertação tem como objetivo analisar as narrativas presentes nos Atos Apócrifos de Paulo, texto cristão do século II EC, a partir do prisma do folclore narrativo. A análise repousa na relação estrutural que as narrativas de martírio contidas nos Atos representam formas literárias oriundas da oralidade, a partir de sua estrutura narrativa e funções de personagens. As narrativas em questão, os martírios de Paulo em Éfeso e de Tecla em Icônio, apresenta seus personagens encarnando o arquétipo heroico, superando dificuldades e sendo auxiliados por animais que apresentam características fantásticas. Tais materiais apresentam similaridade com outros materiais da tradição popular do mundo greco-romano, amparando nossa hipótese de que o cristianismo primitivo integra uma rede de tradições orais ligadas aos gêneros do folclore arcaico do mundo mediterrâneo antigo. Nessa análise serão utilizadas, sobretudo, as teorias de Vladímir I. Propp e Eleazar M. Mieletinski como referências para análise da gênese e transmissão do folclore narrativo, bem como dos modos como narrativas diferentes se apresentam como variações de uma mesma cadeia de contos populares, modificados segundo aspirações dos diferentes grupos sociais onde estes circulam. Ao utilizar a memória de figuras de autoridade como Paulo e Tecla, acessamos por meio dessas narrativas um subtexto de conflitos e disputas de autoridade e papeis sociais dentro das comunidades cristãs mediterrâneas. Além disso, essas narrativas são portas de acesso privilegiadas a um efervescente imaginário animal cristão e franco desenvolvimento a partir do século I EC. Este imaginário se relaciona com representações de animais nos espetáculos nas arenas romanas, além de serem respostas à debates sobre a natureza animal em franco desenvolvimento no período. Natureza animal que funciona também como dispositivo de construção de identidade e posicionamento de grupos subalternos diante de relações sociais assimétricas.